Arquitetura e Interiores e o feito à mão.
A importância deste segmento na produção humana.
Já existem impressoras 3D construindo casas, ambientes e produtos, porém a grande parte ainda é uma produção manual, que traz inúmeros benefícios, entre eles e de imediato a geração de empregos.
Mas vou enfatizar o ponto de vista filosófico disto e para tanto citar Vilém Flusser, em seu livro O Mundo Codificado: por uma filosofia do design e da comunicação que é uma coletânea de textos criteriosamente selecionados por Rafael Cardoso.
“Do ponto de vista etimológico, portanto, a manufatura corresponde ao sentido estrito do termo in + formação (literalmente, o processo de dar forma a algo). No sentido amplo, fabricar é informar. Daí deriva o sentido, menos usual, de “fabricar” como inventar ou engendrar ideias ou versões, como na frase “fabricar um álibi”” (CARDOSO apud FLUSSER, 2010, p. 12).
Quando tratamos de Human-centered design estamos colocando o foco na importância do ser humano para a solução de problemas, sejam estes quais forem. No caso do habitar isto é mais que importante, é imprescindível. Não há como pensar, projetar e desenhar ambientes sem considerar o ser humano. Não apenas aquele que irá habitar, mas toda a espécie, por isso também está atrelado a ideia de futuro e sustentabilidade.
O desenvolvimento da cultura humana, passa pela “Manufatura” vem do Latim MANUS, “mão”, mais FACTURA, “trabalho, resultado de atividade técnica”, de FACERE, “fazer”.
Aqui outros autores além de Flüsser, como DeMasi e Harari nos demonstram que temos diversas fases "primeiro o homem-mão, depois, o homem-ferramenta, em seguida, o homem-máquina e, finalmente, o homem aparelho-eletrônico” Flüsser. Ou seja, primeiro aprendemos a realizar coisas com a mão (homo-habilis) , depois fomos desenvolvendo ferramentas para produzir melhor estas coisas (homo faber) e depois já Homo Sapiens Sapiens criamos a maquina.
Neste processo o que ocorreu com a máquina é que esta tira o homem do centro este deixa de ser imprescindível.
Por exemplo, quando o homem faz um objeto com a mão ele é imprescindível, se ele não puder realizar o objeto não estará pronto. Quando este homem realiza a produção com um instrumento ele ainda é o foco, ele é a constate e o instrumento é a variável, um pintor utiliza um rolo, um marceneiro uma lixa, se o rolo estragar ele troca de rolo (variável), mas o pintor se mantém constante.
Já quando o homem produz um objeto com uma máquina ele passa a ser variável e a máquina a constante. Se este ser humano não puder estar presente troca-se o homem e mantém-se a máquina.
Esta mudança de paradigma trouxe uma inversão de valores, de imediato passamos a dar mais valor ao resultado da máquina, obviamente só foi percebido após a revolução industrial, mas hoje admitimos que foi um erro e que o valor de fato está no ser humano.
Nesse sentido arquitetos e designers de interiores são profissionais importantíssimos na difusão do valor do feito à mão desde o assentamento de tijolos, da massa ao pesponto de couro, o barrado da cortina ou vaso de cristal, todos tiveram um ser humano dedicado, hábil, concentrado e graças a aquisição destas peças famílias e comunidades inseridas na economia.
artigo publicado originalmente na revista MixDesign Outubro 2021
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