quarta-feira, 22 de abril de 2020

Design e economia criativa.

Design e economia criativa.
Investir em design deixou de ser uma questão de luxo ou estética, é uma postura política.


"O design pode gerar um valor significativo para as economias locais e regionais: Londres continua sendo a potência do design do Reino Unido, com quase uma em cada três empresas baseadas na capital, bem como um em cada cinco trabalhadores de design. No entanto, este estudo também mostra que, nos últimos anos, a maioria das regiões do Reino Unido também tiveram um crescimento no Valor Agregado Bruto gerado por designers”.British Design Council 2018.

O design de interiores mobiliza o melhor da economia criativa que é o mercado local e a economia circular. O grande impacto está na geração de empregos diretos, cada vez que um profissional de design de interiores entra em ação gera em torno de 40 empregos diretos para cada projeto desenvolvido. Número que triplica nos indiretos de primeira instância e segue assim em todo a cadeia.
Quem está acompanhando a economia criativa no mundo já percebeu que é um dos mercados mais importantes. E não se restringe mais ao arquiteto ou designer que faz projetos residenciais para atender famílias, a maioria das empresas já percebeu a importância deste criativo e o inseriu no seu negócio.

"design opera em toda a economia do Reino Unido e não está mais restrito às indústrias criativas. Outros tipos de empresas estão investindo em designers e nas habilidades de design. Queríamos investigar como o restante da população de negócios do Reino Unido interage com os designers - como eles estão investindo em design, o impacto que isso tem na organização e qual é a demanda por design. “ British Design Council 2018

No livro Economia criativa de John Howkins o segmento de design de interiores tem grande destaque, ele apresenta o casede Sir Terence Conran, CEO do Conran Design Group uma rede de design de interiores. A escolha do Conran é pela proximidade londrina e pela excelência de seu trabalho, de fato um exemplo mundial. Costumo visita-lo frequentemente com grupos de empresários e profissionais de design de interiores. Conran tem essa qualidade de, como ele mesmo diz, “ver uma lacuna no mercado”, que é, a possibilidade de num futuro breve, ver espaços vazios que podem passar a ter vida. E tenho tratado disso nos artigos que escrevo aqui sobre tendências.
O importante é que este segmento mobiliza o mercado local, e quando tratamos de economia criativa passa a ser um dos mais importantes, como demonstrarei a seguir.
Segundo Howkins o império de Conrad vale mais de L$1 bilhão de Libras Sterlinas, gerando algo na casa de L$ 90 milhões de libras esterlinas por ano, tudo isso utilizando como princípio a criatividade no segmento de design de interiores.

Temos exemplos similares aqui no brasil de fábricas e lojas que conquistaram crescimento proporcional e relativo ao nosso mercado. Porém, o que temos estimulado desde os anos 90 não é apenas este trabalho isolado e sim, a interação entre os mais diversos atores para reforçar o próprio mercado. 
Há sem dúvida inúmeros ganhos qualitativos na vida das pessoas que usufruem de projetos criativos de design e arquitetura de interiores, projetos de iluminação, ventilação, escolha de materiais adequados, adaptados a todos, boas noites de sono e descanso, separação de detritos e lixo da alimentação, tudo isso torna os ambientes mais saudáveis, e este ganho de qualidade de vida já seria um bom motivo para contratar um profissional da área. Mas estamos tratando do design na economia criativa, e aqui quando falo de design de interiores estou me referindo na concepção mais ampla do design. Então obviamente estamos tratando não apenas dos objetos de design de produto que estão nos ambientes de interiores e que têm uma origem fabril e artesanal, estamos tratando também do design dos ambientes como projeto e concepção de espaços e também de arquitetura e construção civil, que envolve na área de criatividade inúmeros outros profissionais. Ou seja, gera empregos, utiliza mão de obra de diversos níveis, assim aproveita ao máximo a população local. 52% dos empregos formais com carteira assinada (17 milhões de pessoas) trabalham nos pequenos negócios.O dinheiro circula localmente e estes funcionários compram dos pequenos negócios, possibilitando criar novas oportunidades, gerar mais empregos e distribuir melhor a renda.Valorizar o comércio da vizinhança fortalece as pequenas empresas, que investem em inovação, atendimento ao cliente e diversificação de produtos e serviços. Ou seja, investir em design deixou de ser uma questão de luxo ou estética, é uma postura política, de escolhas. E neste momento da humanidade entendemos bem as consequências de nossas escolhas.
Alvaro Guillermo

 artigo publicado originalmente na  Revista Mix Design - Edição 53   Published on Apr 19, 2020