segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Entre a Casa e o Lar.

 Existem alguns conceitos que se confundem, por vezes equivocadamente, mas muitas vezes pela proximidade e intimidade com que são tratados e observados. O habitat, a casa, o apartamento, a moradia, o domicílio, o lar, o edifício, a arquitetura e os objetos, principalmente.

É uma discussão que se aprofunda em suas especialidades, mas também circula na interdisciplinaridade que esse espaço permite. 

 

A noção exata só pode ser compreendida após a vivência desses espaços, e aí entra a relação temporal, pois nesse tempo de vida, a experiência imprime novos conceitos como identidade, memória, símbolos, signos, imagem, imaginação, paisagem, refúgio, entre outros. Acreditamos nos segredos da intimidade que a casa nos proporciona mesmo que possamos ser observados por curiosos sem ter ciência disso. Demarcamos os limites de territórios públicos e privados, do individual e do coletivo. Mas, quando ampliamos a distância de observação da nossa casa esses se confundem com o bairro, a cidade e até nosso planeta.

 

Já na origem, a palavra grega Oikos que tem em sua tradução Eco, trazia vários significados, podendo ser apresentados hoje como “casa”, “ambiente habitado” ou “família”. Era uma unidade da sociedade, uma organização social hierarquizada da vida particular, dos interesses privados, diferentes dos públicos para a qual se utilizava a palavra Polis. Uma linha de descendência de pai para filho, de geração em geração. 

A composição da palavra Oikos também dá origem às palavras ecologia (estudo ou saber da casa) e economia (do grego Nomos que significa norma ou lei da casa) que, associados ao social, formam o tripé de um dos conceitos mais urgentes e mais abordados na atualidade: a Sustentabilidade.

 

“É evidente que o lar não é um objeto, um edifício, mas uma condição difusa e complexa que integra memórias e imagens, desejos e medos, passado e presente. Um lar é também um conjunto de rituais, ritmos pessoais e rotinas da vida quotidiana. O lar não pode ser produzido de uma só vez; tem sua dimensão temporal e contínua e é um produto gradual da adaptação da família e do indivíduo ao mundo. ” Arq. Juhani Pallasmaa

 

Ao longo do tempo da humanidade muitos desses conceitos foram mudando, com novas tecnologias, novas organizações sociais, políticas e econômicas. Não somente nas questões formais, geométricas, materiais e racionais, mas também as realidades sociais, mentais, simbólicas e poéticas da casa e do lar.

Alguns exemplos são claros: no passado nos reuníamos em torno do fogo de chão, depois esse fogo sobe em tochas e velas em candelabros, que se tornam lâmpadas de lustres com a energia elétrica, que possibilita o rádio e a televisão. E, agora, está em celulares e outros aparelhos móveis... a luz migrou para pequenas telas que levamos junto conosco. Sentávamos para conversar e ouvir histórias, hoje digitamos e vemos imagens.

Por estes motivos é importante manter sempre a reflexão sobre o modo de vida, os ambientes da nossa casa e os locais de convívio social. Nos últimos anos fomos obrigados a nos isolar e percebemos que a nossa casa estava em segundo plano nas nossas vidas. 


Matéria publicada originalmente na revista MIX Design 68 Dez 2022