quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Luxo e patrimônio. Arquitetura e design preservando a memória da cidade.



Luxo e patrimônio. 

Arquitetura e design preservando a memória da cidade.

Alvaro Guillermo

 

O Gasômetro de Londres foi muito importante para o armazenamento do gás necessário para atender a demanda da cidade que promoveu a revolução industrial. Localizado em King's Cross foi construído em 1824. A área ficou esquecida e associada à indústria, entre as linhas de trem e metrô e o rio Regente de Londres.




Os triplos tanques de gás interligados foram construídos e revisados entre 1860 e 1880 e agora, cerca de 150 anos depois, estão mais uma vez respondendo de forma inovadora ao aumento crescente da população da Capital, se tornando uma estrutura com unidades residenciais de altíssimo padrão.




O escritório de arquitetura WilkinsonEyre venceu o concurso de design com o conceito de três edifícios residenciais alojados em elegantes estruturas. O conceito apresenta três tambores de acomodação em alturas diferentes para sugerir o movimento dos gasômetros originais. Um quarto formato de tambor virtual, localizado no centro, forma um pátio aberto, com o conglomerado das estruturas de ferro fundido no ponto de intersecção.




Com a sua localização à beira do canal, os Gasholders parecem um santuário de calma no ambiente urbano, um verdadeiro oásis, mas é também o empreendimento mais bem conectado de Londres por estar situado ao lado da estação central, com transporte (metrô e ônibus) para se locomover dentro da cidade, e através do trem em todo o Reino Unido e Europa. 

Isto reforça o novo conceito de luxo, pessoas conectadas com a cidade, que buscam ter uma experiência singular, ciente que fazem parte de algo maior e que estão ajudando a construir um legado, muito maior que seu patrimônio pessoal, reforçando a identidade da cidade e da história do país.


 



Junte a isso a possibilidade de vistas panorâmicas únicas da cidade de Londres, interiores com acabamentos e design inteligente em todos os ambientes e detalhes.




Provavelmente no século passado morar no Gasômetro não seria nada agradável, hoje é um luxo.










matéria originalmente publicada na Revista MixDesign set 23


quarta-feira, 5 de julho de 2023

A Arquitetura das Marcas de Luxo

 Como transmitir de forma rápida e eficaz que o luxo mudou?

Como transmitir que a marca faz parte deste novo mercado de luxo?

 

Com a arquitetura.


As marcas que até alguns anos atrás usavam Maisons e palácios para se apresentarem no mercado de luxo está mudando radicalmente. O brilho, os cristais e enfeites rebuscados das fachadas, típicas do Rococó, desaparecem para dar lugar a uma arquitetura simbólica e emotiva que marcam o entorno tornando o espaço uma referência urbana própria para atrair os olhares do público, mas, também para contar uma história coerente com o posicionamento da marca no mercado de luxo.

Mesmo quando a fachada não permite intervenções, seja por patrimônio ou preservação os interiores passam a fazer esse papel como é o caso da famosa escada da Armani da 5ª. Avenida de New York. Projeto do escritório de arquitetura grego Fuksas apresenta uma escada rampada sinuosa e escultórica dentro de um edifício de linhas retas. O impacto visual é inevitável e tornou-se o centro dos olhares da loja.



O mesmo ocorre com a Hermés Paris projeto do escritório francês RDA architects, utilizaram materiais naturais em contraposição a um edifício de fachada rebuscada.

Evidentemente a marca está transmitindo um novo conceito, de aconchego, volta às origens, e feito à mão.




Da mesma forma marcas de luxo tem contratado arquitetos renomados na busca deste novo posicionamento  como a LouisVuitton,  que contratou o projeto do escritório Frank Gehry para sua Fundação em ParisChanel contratou Peter Marino Architect para a nova loja de Seul, e a Rolex que fez um concurso que teve como vencedor David Chipperfield Architects para a nova sede de New York.

Isto demonstra o valor da arquitetura e o design para o posicionamento das marcas no mercado de luxo. E vem muito mais por aí, isto é o começo de um novo comportamento. 




texto originalmente publicado na MIX 71 06/23










terça-feira, 23 de maio de 2023

Luxo na arquitetura e interiores.

 Luxo na arquitetura e interiores.

Como a gestão do luxo pode ensinar nosso segmento.

Por Alvaro Guillermo





Um dos momentos mais importantes da palestra de Carlos Ferrerinha durante o Summit23 do Club Design Litoral Paulista foi que é possível ensinar técnicas e ferramentas de gestão do luxo para aplicá-las em todos os segmentos.  Ao longo de sua carreira de sucesso, principalmente à frente do grupo LVMH, como Diretor de Marketing, Comunicação e Novos Negócios da Louis Vuitton Caribe, América Latina e Brasil, finalizando como CEO da operação Brasil – sendo o mais jovem executivo em posição de Presidência no Grupo LVMH, Ferrerinha encontrou alguns pontos fundamentais que todas as empresas podem utilizar para manter-se num desafio constante de inovação e qualidade. Desta forma, cada vez que empresas atingem um novo patamar mais elevado de satisfação de seu cliente, é necessário pensar o próximo degrau acima, já que:

“paladar não retrocede”.


Esta frase resume bem este conceito de constante aprimoramento, é mais que o título de seu livro, é um lema que orienta empresas e equipes a perceberem o comportamento do ser humano.

Todos nós agimos desta maneira, nos acostumamos com alguns procedimentos e depois não aceitamos algo abaixo ou que precede o estágio de qualidade e atendimento já experimentado. Torna-se uma constante “Change is the only constant” Heraclito. Desta forma teremos sempre clientes cada vez mais exigentes.

 

Nosso mercado de arquitetura e interiores, já exerce um padrão de atendimento muito próximo ao que marcas de luxo utilizam em outros segmentos. 

Assim como todo nós queremos um tratamento especial do Banco X, pois temos uma conta especial, nossos clientes também entendem assim quando se relacionam conosco.

Isto levanta outro ponto crucial neste relacionamento entre marcas, empresas, especificadores e clientes: Exclusividade. Esta exclusividade não se oferece a todos, caso contrário deixa de ser exclusividade.

Quem busca atendimento especial deve buscar marcas que ofereçam essa exclusividade, e obviamente, isto tem valor, portanto não se discute preço. Luxo não tem a ver com preço e sim com desejo das marcas. Marcas de luxo são desejadas, produtos e serviços escolhidos por necessidade são comparados por preço.

 

As empresas devem buscar em suas identidades aquilo que podem fazer com excelência de forma que as torne desejáveis, criando formulas próprias, sem copiar os outros. E oferecer com exclusividade àqueles que desejam esse diferencial e podem pagar por ele.

A equação difícil é convencer o mercado que seus produtos e serviços custam mais caros, e não oferecem nada diferente da concorrência. Neste caso a comparação será por preço. Ou querer ter um tratamento exclusivo e especial, mas não querer pagar por isso, ou não ter um relacionamento com a marca que promova isso.

 

Tudo isto serve para todos, empresas de arquitetura e interiores, lojas do segmento e o cliente final.

Um grande exercício é colocar-se sempre na posição de cliente. Observe as suas reações frente a ofertas de produtos e serviços e imagine seu cliente na mesma posição, no ambiente digital e presencial. Veja como você se comporta quando chama um Uber e pense como seu cliente entende sua comunicação por whatsapp por exemplo. Ou veja como você reage a um atendimento num restaurante, numa espera longa, ou numa demora de atendimento na mesa já sentado, ou a demora à chegada dos pratos, e pense em seu cliente com seus serviços.

O Luxo está nos detalhes, nas emoções e desejos, que marcam um experiencia singular e exclusiva.



Artigo publicado originalmente na Revista Mix Design 70 (aniversário) Abr. 2023


Design & sustentabilidade: Capacete ecológico feito de restos de conchas.

 Design & sustentabilidade

Capacete ecológico feito de restos de conchas.

Alvaro Guillermo





As conchas marinhas, tem como função principal a proteção, destinam-se a proteger seus habitantes dos predadores.  Uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e designers utilizou biomimética e biônica num processo de sustentabilidade para estudar e analisar o uso de sobras de conchas marinhas nas praias do Japão.

O problema dos resíduos marinhos, cerca de 40.000 toneladas de conchas marinhas geradas anualmente por uma fábrica produtora de vieiras, passou a ser a base de produção de um novo objeto: um capacete. Que traz também conceitualmente a própria função da concha e seu desenho remete à concha na tentativa de auxiliar a contar e transmitir toda esta história.


Biomimética é uma ciência que estuda os princípios criativos e estratégias da natureza, visando a criação de soluções para os problemas atuais da humanidade, unindo funcionalidade, estética e sustentabilidade. Mimetismo proveniente do termo grego "mimetés" que significa imitação, e dá origem a mimica e outras palavras. Na filosofia Aristóteles e Platão se dedicaram a refletir e tentar compreender o que é ter consciência de uma existência e como ela se relaciona com a Natureza.


O produto resultante não é apenas melhor para o meio ambiente, mas também mais durável e mais leve do que os capacetes de plástico convencionais. A matéria prima foi desenvolvida junto a uma empresa de produtos químicos (Koushi Chemical), que desenvolveu um método de processar as sobras de cascas em um novo material denominado “karastic” (combinação das palavras kara, que significa casca ou concha, e plástico).
Quantum é um estúdio Startup que cria novos produtos e serviços por meio do desenvolvimento de negócios orientados à criatividade.





Desde a fundação em 2016, tem lançado negócios próprios criando empreendimentos, trabalhando colaborativamente e através de co-founding com mais de 70 empresas, startups e universidades.
Com o foco no  “Zero to Impact” utilizando a criatividade e capacidade de implementação em uma cultura que valoriza o espírito de empreendedorismo.

O estúdio de design japonês Quantum, criou o capacete inspirado na própria estrutura nervurada da concha. O produto passou a se chamar de Hotamet, junção das palavras hotate (vieira) e capacete (helmet).



artigo publicado originalmente na Revista Mix Design 69 fev. 2023





segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Entre a Casa e o Lar.

 Existem alguns conceitos que se confundem, por vezes equivocadamente, mas muitas vezes pela proximidade e intimidade com que são tratados e observados. O habitat, a casa, o apartamento, a moradia, o domicílio, o lar, o edifício, a arquitetura e os objetos, principalmente.

É uma discussão que se aprofunda em suas especialidades, mas também circula na interdisciplinaridade que esse espaço permite. 

 

A noção exata só pode ser compreendida após a vivência desses espaços, e aí entra a relação temporal, pois nesse tempo de vida, a experiência imprime novos conceitos como identidade, memória, símbolos, signos, imagem, imaginação, paisagem, refúgio, entre outros. Acreditamos nos segredos da intimidade que a casa nos proporciona mesmo que possamos ser observados por curiosos sem ter ciência disso. Demarcamos os limites de territórios públicos e privados, do individual e do coletivo. Mas, quando ampliamos a distância de observação da nossa casa esses se confundem com o bairro, a cidade e até nosso planeta.

 

Já na origem, a palavra grega Oikos que tem em sua tradução Eco, trazia vários significados, podendo ser apresentados hoje como “casa”, “ambiente habitado” ou “família”. Era uma unidade da sociedade, uma organização social hierarquizada da vida particular, dos interesses privados, diferentes dos públicos para a qual se utilizava a palavra Polis. Uma linha de descendência de pai para filho, de geração em geração. 

A composição da palavra Oikos também dá origem às palavras ecologia (estudo ou saber da casa) e economia (do grego Nomos que significa norma ou lei da casa) que, associados ao social, formam o tripé de um dos conceitos mais urgentes e mais abordados na atualidade: a Sustentabilidade.

 

“É evidente que o lar não é um objeto, um edifício, mas uma condição difusa e complexa que integra memórias e imagens, desejos e medos, passado e presente. Um lar é também um conjunto de rituais, ritmos pessoais e rotinas da vida quotidiana. O lar não pode ser produzido de uma só vez; tem sua dimensão temporal e contínua e é um produto gradual da adaptação da família e do indivíduo ao mundo. ” Arq. Juhani Pallasmaa

 

Ao longo do tempo da humanidade muitos desses conceitos foram mudando, com novas tecnologias, novas organizações sociais, políticas e econômicas. Não somente nas questões formais, geométricas, materiais e racionais, mas também as realidades sociais, mentais, simbólicas e poéticas da casa e do lar.

Alguns exemplos são claros: no passado nos reuníamos em torno do fogo de chão, depois esse fogo sobe em tochas e velas em candelabros, que se tornam lâmpadas de lustres com a energia elétrica, que possibilita o rádio e a televisão. E, agora, está em celulares e outros aparelhos móveis... a luz migrou para pequenas telas que levamos junto conosco. Sentávamos para conversar e ouvir histórias, hoje digitamos e vemos imagens.

Por estes motivos é importante manter sempre a reflexão sobre o modo de vida, os ambientes da nossa casa e os locais de convívio social. Nos últimos anos fomos obrigados a nos isolar e percebemos que a nossa casa estava em segundo plano nas nossas vidas. 


Matéria publicada originalmente na revista MIX Design 68 Dez 2022




terça-feira, 6 de setembro de 2022

200 anos de Brasília em Santos. O protagonismo da cidade na capital do país.

 Quando falamos na história da nova capital, Brasília, geralmente lembramos da autoria de três pessoas: Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Raramente recordamos a importância que esse tema teve, em 1822, e que a cidade de Santos desempenhou um papel imprescindível para esse fato pudesse ocorrer. 



 

Também pensamos em Brasília como uma cidade nova, de 62 anos de construção, é verdade, mas a ideia de mudar a capital do Rio de Janeiro para o interior, é muito anterior.

 

Desde de 1822, quando se toma a decisão de separar o Brasil de Portugal, começa-se a pensar, estrategicamente, em mudar a capital para o interior. Nesse momento passa a ter um papel especial o santista José Bonifácio de Andrada e Silva que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823, e conselheiro de D. Pedro I. 




 

Bonifácio é reconhecido por vários feitos militares e políticos e pelo Manifesto Paulista, uma carta escrita por José Bonifácio de Andrada e Silva, no Solar dos Andradas, em dezembro de 1821, onde solicita a D. Pedro que não cumpra as ordens vindas de Lisboa e permaneça no Brasil, atendendo ao desejo dos paulistas.

 

Vários motivos fortaleceram a ideia da mudança, afastar do conceito português impregnado no Rio de Janeiro e, principalmente, buscar a interiorização da capital longe do ataque de navios e perto de rios que ligassem o sul ao norte do país.

 

Bonifácio articula essa mudança a partir da independência e o mais importante: nomeia a cidade em carta à Assembleia Constituinte, propõe a interiorização da capital para o Planalto Central e sugere que seja batizada de Petrópolis ou Brasília.

 

Assim, na Constituição de 1891, a mudança a capital no centro do Brasil se transformou em Lei.

 

Cem anos mais tarde, em 1922 , durante as celebrações do Centenário da Independência do Brasil, foi inaugurada a Pedra Fundamental da futura capital. E só em 1955 durante um comício em Goiânia, o então candidato à presidência Juscelino Kubitschek, se propôs a respeitar a constituição. Nesse evento, Juscelino foi pressionado por um eleitor que pergunta se iria mudar a capital para o planalto central, como constava na Constituição de 1891. Juscelino promete não apenas iniciar a mudança como inaugurar a capital. Movimento que ficou conhecido como 50 anos em 5. Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, mas essa é outra história, que a maioria já conhece.

 

Em setembro deste ano comemoraremos 200 anos de independência do Brasil, um movimento importante para nosso país, com papel fundamental de um santista, que da origem também à nova capital, um exemplo de urbanismo, arquitetura e design moderno brasileiro para o mundo.




Artigo publicado na Revista MixDesign ago/set 2022

segunda-feira, 18 de julho de 2022

O Novo Luxo e as mudanças na arquitetura e no design.

 O Novo Luxo e as mudanças na arquitetura e no design.

Alvaro Guillermo

 

A ideia de luxo está associada aquilo que nos é raro e, portanto, caro – não necessariamente à riqueza material e financeira –, mas aquilo a que de fato damos valor. Lembra do uso da palavra em conversas como “meu caro amigo”?

 

Na origem a palavra luxo vem do Latim LUXUS, que significa excesso, extravagância, magnificência. Provavelmente deriva de LUCTUS, “deslocado, esticar, tensionar” (daí a palavra “luxação”) trazendo o sentido de fora de lugar. 

Luxo também tem relação com LUX do Latim, que é luz, brilho, por isso por muito tempo luxo esteve associado a tudo que brilhava em excesso. 

 

Em toda a antiguidade houve reverência ao brilho e consequentemente ao Sol, temos inúmeros exemplos em diversas culturas, tendo seu auge no período conhecido como Rococó, durante o século XVIII, e como grande referência na arquitetura e decoração o estilo Luís XV, em homenagem ao Rei Luis XV da França. 

 

Luis VX nasceu em Versailles que é um dos maiores ícones desta imagem que o luxo transmitia. Mas, também é importante lembrar aonde tudo isto levará anos mais tarde com o casamento de Luís Augusto com Maria Antonieta: a queda da Bastilha, guilhotinas e a Revolução Francesa.

 

Outra palavra que se origina de LUXUS é Luxúria que significa desregramento sexual e também associada a cobiça ou apreço por bens materiais, ou seja: excesso e algo fora de lugar.

 

Esta introdução é importante para entender o impacto que o luxo carrega na relação de extravagância representada pela arquitetura e pelos objetos da decoração com a sociedade mais favorecida, a elite econômica.

 

O mundo mudou muito e a velocidade tomou conta de tudo. Praticamente não temos tempo para fazer mais nada, estamos sempre correndo de um lado para o outro. O tempo passou a ser o item mais valioso de nossas vidas. Esta nova relação com o tempo muda radicalmente no nosso habitar e com os objetos de nosso entorno. 

 

A arquitetura residencial passa a dar mais valor ao ficar em casa, conceito potencializado pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido é importante reforçar que esta é uma tendência que precede a pandemia, e que o isolamento forçado só aumentou a percepção da necessidade disso. Ter tempo para curtir a casa e realizar inúmeras tarefas que nos dão prazer, com qualidade, passou de um luxo desejado a algo necessário para viver bem. 

Essa tendência vem sendo reforçada pelo crescimento do movimento slow, principalmente do Slow Design que apresenta espaços, ambientes e objetos onde o tempo do ser humano está presente, por isso, a valorização do feito a mão em contrapartida do que é realizado velozmente pela máquina.

 

A casa, como construção, passa a ser pensada para o ser humano e a arquitetura vai priorizar isto, e não a riqueza dos materiais construtivos. É nela que podemos imprimir nosso conceito de vida e que conseguimos sentir a importância de viver bem, quando esse pouco tempo que temos para nós mesmos tem valor especial. A inserção de nossas identidades em nossos ambientes é importante para o reconhecimento do que somos e do que queremos ser, e não do que temos ou queremos ter, ou seja, passamos a entender o prazer de viver em ambientes com os quais nos identificamos e, quando atingimos isso, sentimos isso como luxo – devido ao valor que lhe damos.

 

O luxo contemporâneo não está focado no que temos e adquirimos, ou seja, na materialidade (muito menos que brilha e reluz) e, sim, será encontrado em tudo que nos remete a valorizar nosso tempo de vida e nossas identidades. Mais importante que ter um vaso de cristal é ter um vaso com o qual nos identificamos, porque conhecemos sua origem ou o artista que o executou. Uma casa luxuosa tem uma história para contar.

 

Um bom exemplo disto é o resultado do concurso de arquitetura de luxo PRIX VERSAILLES (da UNESCO) 2018 conquistado pelo hotel Casa Cook Kos, recém-inaugurado na Grécia, autoria de Mastrominas ARChitecture um dos escritórios mais famosos de projetos de hospitalidade de luxo, com vários prêmios internacionais por sua arquitetura inovadora e exclusiva baseada na reinterpretação da arquitetura tradicional grega, mas com um vocabulário moderno. São 100 quartos que contam com luxos pequenos e grandes, com casas cubistas de um e dois andares, agrupadas em torno de jardins e pátios. Os móveis com linhas limpas combinam-se com texturas naturais e ásperas e acessórios exóticos para criar o um verdadeiro santuário.  “Não importa qual o nível de luxo que você escolhe, o estilo discreto é fornecido com muito conforto” afirma o hotel.

 

Outro exemplo disso é o hotel Fasano Las Piedras em Punta del Este Uruguay, projeto de arquitetura de Isay Weinfeld, instalado numa paisagem dramática e deslumbrante: árida, rochosa e de vegetação esparsa e rasteira. As unidades que compõem o complexo, foram concebidas e distribuídas como módulos isolados de concreto, pousados sobre o terreno, como as próprias pedras que existiam no local, preservando as características rústicas e artesanais.

 

Se a sua vida anda muito longe de cristais, prata, ouro e veludos, mas você tem real noção do tempo de sua vida aproveitando ao máximo cada momento que o universo lhe oferece, como apreciar o pôr-do-sol ou um bom vinho com os amigos ao redor do fogo, então sua vida é um luxo.





artigo publicado originalmente na Revista TriNova Piracicaba junho 2022

https://hubtrinova.com/o-novo-luxo-e-as-mudancas-na-arquitetura-e-no-design/