terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Design para uma vida longa

Tendências e análises de consumidores são algumas das disciplinas mais estudadas atualmente.

Já faz alguns anos que vem se alertando sobre um assunto extremamente importante para todos nós, que é a possibilidade de o ser humano viver em média mais tempo, ou seja, ter uma vida mais longa. E o que é melhor, com mais qualidade e em atividade. Assim, você irá ouvir muito falar de longevidade e longeratividade que é a geração que passa a viver mais em atividade.

Outro ponto muito tratado, por esse motivo, é que o Brasil terá uma inversão na sua pirâmide social, passando a ser uma sociedade com mais pessoas acima de 50 anos do que abaixo. Não é a toa que tanto se fala em aposentadoria e previdência social, já é o quarto governo federal tratando esse assunto, os cálculos dos anos 1950 não servem mais.

Pasmem! Apesar de ser a faixa demográfica que mais cresce no mercado, é a menos tratada. Faltam produtos e serviços específicos. Principalmente porque os poucos que pensaram nisso continuam enxergando os “seniors” de 70 e 80 de hoje como aqueles senhores idosos de 50 anos dos anos 1950.

Esta geração é diferente, e acima de tudo tem poder aquisitivo e sabe muito bem o que quer. Não compra qualquer coisa à toa, sabe o valor do tempo, e não vai “gastar” esse tempo em bobagens, ele quer qualidade. Eles estão mudando os hábitos e costumes de consumo.
No Brasil hoje são 54 milhões que é comparada à população da Espanha. Sendo que metade, ou seja, 27 milhões tem renda superior à média da população brasileira. Assim sendo, por questões inerentes à idade, não pretendem guardar esse dinheiro para o futuro. Obviamente gastam muito em saúde e por isso tudo que apresenta uma vida melhor eles prestam atenção.  E o panorama para o futuro revela que continuará crescendo e que em 2050 serão 98 milhões.

E o segmento de arquitetura e design de interiores é um dos mais importantes, depois que todo mundo saiu de casa, e os netos já estão na universidade essa geração precisa um lar diferente. Reformas e mudanças são necessárias.
Como a falta de foco neste público é geral, faltam campanhas publicitárias que os estimulem a repensar os últimos anos de suas vidas. Por isso é comum encontrar profissionais comentando que fizeram uma reforma, mas o cliente não queria investir muito, pois já tinha tudo, do sofá ao quadro.  É nesse momento que o profissional deve exercer seu papel de educador, pois cabe a este também ensinar coisas ligadas ao lar e a morar bem.

Não se trata de encorajá-lo a gastar, muito pelo contrário, trata-se de explicar a importância dos ambientes onde ele passará esse momento especial de sua vida. Memórias afetivas são importantes, mas a felicidade de sentir-se bem é maior.
A casa era de uma família que agora está diferente, e algumas dessas memórias podem prejudicar sua saúde. Cabe ao profissional fazer esse diagnóstico e saber propor um novo ambiente que comporte esse novo modo de vida. Essa geração é ativa, quer receber amigos, tem histórias para contar, não precisa sair de casa para se sentir animado (não precisam de algo como a estratégia do gnomo que Amélie Poulain utilizou para tirar o pai de casa).

Como escolher produtos para esta geração? Sua loja está preparada para recebê-los e atendê-los? Você, profissional da área, já estudou sobre eles?

Isto era uma tendência nos anos 60, hoje é uma realidade. Não tem volta, ainda bem! Viveremos mais e melhor, já há possibilidade de em 2050 o ser humano viver de 100 a 120 anos bem, e até lá muita coisa nova vai aparecer, que se comentar neste artigo vai deixar muitos assustados.

Os poucos mercados que têm se focado nesse público são o turismo, lazer e gastronomia, mesmo com uma visão equivocada dessas pessoas, tem gerado ofertas, até porque está aprendendo sobre eles na medida em que a demanda é atendida.
Assim sendo, repense seu negócio e inclua esse público que será maioria, ou continue trabalhando para uma minoria. 
Alvaro Guillermo
artigo publicado originalmente na revista MixDecor edição 40 Fevereiro 2018

Nossa Casa. Nossa Identidade

Buscamos dar significado às nossas vidas.
Através dos signos encontramos as referências que formam nossa identidade.
Design é carregado de signos, assim a escolha de marcas e objetos com design nos ajuda a entender o nosso agora.
No mundo contemporâneo, onde as estruturas não são obvias e evidentes, estar rodeado de pessoas e objetos com os quais nos identificamos, colaboram para termos uma ideia de pertencimento. A vida parece começar a ter sentido quando sabemos que fazemos parte efetivamente deste mundo.

Vivemos muito atrelados às diretrizes e determinações dos outros: os horários da escola dos filhos, do nosso trabalho, dos clientes, o trânsito, feriados, férias... parece que não temos um tempo nosso.

Aí que nossa casa ganha valor, pois esta torna-se nosso refúgio e se ela tiver nossa identidade é o lugar onde conseguiremos encontrar o nosso tempo.

Por isso arquitetura, design de interiores e decoração são tão importantes, estes lidam com o espaço sagrado onde a estética, a ética e a espiritualidade se encontram para dar significado a nossa existência e termos noção de nosso tempo de vida (sagrado no sentido de considerá-los dignos de respeito e devoção espiritual, ou que nos inspiram e os adoramos).

A contratação de um bom profissional é obrigatória, eles sabem trazer essa carga simbólica aliada às normas, custos, técnicas e planejamento para que tudo ocorra dentro do seu perfil.

A casa é sua, nela você deve ter momentos de felicidade, descanso, isolamento, encontros, comemorações, em fim tudo o que sua vida fará a memória de seus filhos e a perpetuação da história. Busque ter na sua casa aquilo que o diferencia dos outros e que proponha um ritmo de vida coerente com os moradores.

Tente conhecer a história dos objetos que você adquire, mesmo indicados ou especificados por profissionais, pergunte a eles o motivo da escolha, quem foi o autor, onde foi fabricado, que materiais utiliza. Evite a cópia malfeita, escolha produtos brasileiros também e não compre bobagens só porque são mais baratas, elas ocupam espaço e não trarão significado a sua vida, compre aquilo que se aproxima a seus conceitos.

E quando algum convidado elogiar seus objetos conte toda a história dele, você perceberá que este ficará curioso e atento, gostará de saber os motivos daquele objeto estar naquele lugar especial da sua casa.


Desta forma você estará levando esta ideia adiante: primeiro você estará contando de suas escolhas e como estas ajudam na construção de sua imagem e identidade, como você pensa e vê o mundo. E também, o que é muito comum de ocorrer, estará estimulando seu convidado a fazer o mesmo e, quem sabe, poderá encorajá-lo a mudar seu modo de viver, mudando seus objetos, a decoração da casa ou até reformando. Contando sua história através de sua casa.

Alvaro Guillermo
artigo publicado na revista Mix Decor ano 7 edição 39 Dez 2017