quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Especialista mostra como empresa pode ser lembrada pelo cliente

Entrevista| 07 de setembro de 2011 | 20h 46
Design pode ajudar pequena empresa a ganhar espaço no mercado brasileiro
Álvaro Guillermo, especialista no assunto, mostra o caminho para os empreendedores
CAROLINA DALL´OLIO, ESTADÃO PME

O discurso de Álvaro Guillermo, 51 anos, não combina forma e conteúdo - o que não deixa de ser uma grande contradição para um designer como ele. Embora tenha deixado o Uruguai em 1974, Guillermo ainda carrega o sotaque do país natal, mas nem por isso deixa de se expressar como um legítimo brasileiro. Aliás, depois de tantos anos, ele já se considera um de nós.




Evelson de Freitas/AE
Para professor, empresários perdem as chances que aparecem
Nesta primeira parte da entrevista que concedeu ao Estadão PME, Guillermo fala sobre a dificuldade que o Brasil tem em buscar inovação e design. Ele começa a explicar, também, como pequenas empresas podem adotar práticas - até certo ponto simples - para reverter essa situação.
Guillermo é formado em arquitetura, design e também é mestre em arte, educação e história da cultura. Atualmente, é professor de pós-graduação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Por que o Brasil, um país criativo, ainda é considerado pobre em inovação e design?
Porque nós, brasileiros, não temos metodologia. Fazemos o mais difícil, que é ser empreendedor. Mas desperdiçamos as oportunidades que aparecem no caminho por pura falta de planejamento. Outro grande erro nosso é querer imitar os outros.
O Brasil só dá certo quando faz diferente! O Garrincha corria sem a bola, a Bossa Nova parecia uma música tocada fora do ritmo, as coisas tipicamente brasileiras são diferentes, são inovadoras. E o design é uma forma de a empresa comunicar essas diferenças para seus clientes. Por isso o design é tão importante para os negócios, especialmente os de pequeno porte.
Por quê?
Porque as pequenas empresas dificilmente conseguirão oferecer o menor preço do mercado. E ainda que tenham um produto muito bom, qualidade hoje é algo obrigatório, não diferencia ninguém. Por isso, resta o design como estratégia de diferenciação, que pode transformar um produto em objeto de desejo e agregar valor à marca.
E como incorporar o design na vida das pequenas empresas?
O primeiro passo é identificar a missão, a visão e os valores da empresa. Seus valores vão determinar sua identidade. Mas se os valores dos outros são iguais aos seus, todos serão iguais, não vai adiantar nada. A empresa pode ter ótimos produtos, mas o consumidor não vai lembrar quem fez aquilo.

Especialista mostra como empresa pode ser lembrada pelo cliente
Antes, segundo Álvaro Guillermo, é preciso descobrir e corrigir os defeitos do negócio
CAROLINA DALL´OLIO, ESTADÃO PME

Na segunda parte da entrevista concedida ao Estadão PME, Álvaro Guillermo mostra o caminho das pedras para os pequenos empresários. Em outras palavras: o especialista aponta o que é preciso fazer para efetivamente crescer. Leia:
Evelson Freitas/AE
Design ajuda a redesenhar um produto, torná-lo funcional

Como corrigir o problema de não ser lembrado pelo consumidor?
Tem que vasculhar o DNA da empresa. Fazer um diagnóstico para descobrir quais são os verdadeiros defeitos do negócio. A começar pelo nome. Se o nome não traduzir o que a empresa quer dizer a seus clientes, muda-se o nome. Outra opção é atualizar a marca anterior, com um novo design. Porque sem uma marca forte, a pequena empresa desaparece.
Mas para o empresário é difícil ter um olhar imparcial sobre sua empresa, promover mudanças...
Por isso é preciso planejamento, profissionalismo. O empresário deve mirar o ponto onde quer chegar e traçar o caminho. Para isso, precisa unir uma equipe multidisciplinar em que cada um tem uma função e visão, mas todos têm a mesma responsabilidade: fazer a empresa chegar lá. Mas, como se trata de projetar o futuro, é bem possível que a empresa erre. Tudo bem! É por meio do erro que encontramos a possibilidade de inovação.
É possível fazer isso sem a ajuda de especialistas em design e comunicação?
O ideal é contratar alguém especializado. Porém, não adianta colocar um designer na sua empresa se ele não tiver influência sobre as decisões estratégicas. Ele deve ajudar a definir os rumos do negócio.
Mas um profissional assim pode custar caro para uma empresa pequena...
Outra saída é contratar uma consultoria para fazer esse trabalho de alinhamento. O serviço deve custar a partir de R$ 4 mil. Isso seria o preço mínimo de um diagnóstico e mais dois meses de trabalho para executar as mudanças.
E quais os resultados que esse serviço pode apresentar?
É possível, por exemplo, redesenhar um produto, torná-lo mais funcional, diminuir a quantidade de material necessário para sua fabricação e, consequentemente, diminuir seus custos. Outra vantagem é criar um programa estratégico da marca. A pequena empresa sempre tem a cara do dono. Mas ao desenharmos uma diretriz, a estratégia vai se descolar do dono, o que possibilita a longevidade da empresa e sua profissionalização. Assim, a marca será reconhecida e valorizada pelo consumidor. E os funcionários também se sentirão mais motivados. É um ganho intangível, que nem sempre vai significar aumento das vendas. Mas já é um ótimo começo.


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