Floresta
Urbana
A tendência de morar
cada vez mais próximo da Natureza.
Alvaro
Guillermo
Seguindo algumas
tendências que abordei nos artigos anteriores a relação com as áreas verdes vem
ditando algumas mudanças significativas no design de interiores e na arquitetura
residencial, corporativa e urbana.
A primeira é a
necessidade cada vez mais forte que as pessoas têm de encontrar uma relação
mais objetiva com o tempo, onde de fato tenham uma noção mais concreta do tempo
real. De modo geral, estamos vivendo em desencontro com o ritmo do tempo natural
(dia, noite, sol, chuva etc.) e ditando nossas rotinas a partir do tempo da
máquina, hoje digital, através de equipamentos mobiles (smartphones) e seus
aplicativos. Nesse sentido a vivência mais próxima de plantas e áreas verdes
nos possibilitam, pelo menos, perceber que estar próximos da Natureza nos faz
desacelerar. Nosso corpo muda, respiramos de modo diferente, é como se nos
acalmássemos e assim, naturalmente, desaceleramos.
A segunda tendência
tem a ver com uma reflexão mais existencialista de entender que devemos viver
com aquilo que é essencial e, desta forma, a arquitetura e o design de
interiores tendem a nos proporcionar espaços mais vazios gerando ambientes mais
contemplativos, onde de certa forma, também desaceleramos em relação a esse
ritmo da máquina. E neste caso as áreas verdes e os produtos com matérias-primas
naturais (madeiras e fibras, por exemplo) nos ajudam nessa contemplação.
Esta tendência vem
sendo estudada de forma mais sistêmica há pelo menos 5 anos, mundialmente
recebe o nome de Urban Jungle e se estabelece numa forte relação com o
orgânico, que vai desde pequenas hortas, passando por paredes verdes (jardins verticais)
até residências inteiramente inseridas na Natureza.
Além de estar sendo
observada, esta tendência, está sendo avaliada também. Diversos estudos
demonstram que este tipo de vida surge como uma necessidade do nosso organismo,
pois isto nos faz bem.
Como sempre, o ser
humano descobre algumas coisas pela falta, vivemos milhares de anos mais
próximos da Natureza, mas foi quando esta começou a desaparecer que sentimos a
falta. Pesquisas demonstram que viver com a Natureza nos faz bem, e não apenas
em ambientes residenciais, nos corporativos também. Um estudo de 2014 realizado
pela Universidade de
Queensland, na Austrália, foi o primeiro
trabalho científico a avaliar a relação entre as plantas e o mundo dos negócios e da produtividade.
Os escritórios que serviram de base para o levantamento estão localizados na
Holanda e no Reino Unido. Esse relatório foi elaborado em parceria com as instituições
de Cardiff Exeter e Groningen e os resultados apontam que ambientes que foram
reformulados apenas com plantas as equipes apresentaram um aumento de 15% em
produtividade.
No
Brasil cometemos alguns enganos ao analisar essa situação, o primeiro está
relacionado com a abundância de áreas verdes que o país tem em relação a outros
países do mundo, acreditando que estas áreas bastam para satisfazer nossa
necessidade humana. Esta tendência não tem a ver com um cálculo de áreas verdes
por habitante, e sim com a proximidade ao natural. Mesmo morando no litoral e
olhando todo dia para o mar, ainda assim temos a necessidade de viver mais
próximos da Natureza. E, por incrível que pareça, no Brasil esta necessidade
aumenta mais, pois temos também um vínculo cultural que na medida que sentimos
e percebemos que quando essas áreas diminuem nosso corpo "reclama”.
Felizmente
essa tendência tem se espalhado de forma rápida e está sendo socialmente bem
recebida e já ultrapassou os limites do lar, indo para os espaços coletivos e
urbanos. Diversos grupos, associações, Ongs e alguns solitários estão criando e
cuidando de espaços abandonados na cidade e proporcionando a oportunidade para
que as florestas retornem, que árvores nativas voltem a crescer, que rios
entubados e escondidos voltem a aflorar e fluir livremente junto a nós.
Curitiba pretende, a exemplo de Seul, aflorar seus rios escondidos, a meta é bem
ousada: pretendem até 2034 recuperar os rios da Capital, tanto em termos de
poluição, como a sua renaturalização. Seul é um grande exemplo que deveria ser
seguido por várias cidades ao substituir avenidas de fluxo viário deixando
voltar os rios que aí estavam canalizados. A cidade ganhou muito em qualidade
de vida, segurança e habitabilidade, relacionamento social, as pessoas passaram
a frequentar esses locais, antes cinzas e originalmente o motivo para se
estabelecerem aí.
Mas,
só o fato de alguns profissionais da área estarem levando esse pensamento
adiante a seus clientes educando-os sobre a importância de viver assim, é um
bom motivo de esperança para nossas cidades.
* artigo publicado na revista MixDecor julho 2018