terça-feira, 17 de julho de 2018

Floresta Urbana - A tendência de morar cada vez mais próximo da Natureza.


Floresta Urbana
A tendência de morar cada vez mais próximo da Natureza.
Alvaro Guillermo



Seguindo algumas tendências que abordei nos artigos anteriores a relação com as áreas verdes vem ditando algumas mudanças significativas no design de interiores e na arquitetura residencial, corporativa e urbana.
A primeira é a necessidade cada vez mais forte que as pessoas têm de encontrar uma relação mais objetiva com o tempo, onde de fato tenham uma noção mais concreta do tempo real. De modo geral, estamos vivendo em desencontro com o ritmo do tempo natural (dia, noite, sol, chuva etc.) e ditando nossas rotinas a partir do tempo da máquina, hoje digital, através de equipamentos mobiles (smartphones) e seus aplicativos. Nesse sentido a vivência mais próxima de plantas e áreas verdes nos possibilitam, pelo menos, perceber que estar próximos da Natureza nos faz desacelerar. Nosso corpo muda, respiramos de modo diferente, é como se nos acalmássemos e assim, naturalmente, desaceleramos.
A segunda tendência tem a ver com uma reflexão mais existencialista de entender que devemos viver com aquilo que é essencial e, desta forma, a arquitetura e o design de interiores tendem a nos proporcionar espaços mais vazios gerando ambientes mais contemplativos, onde de certa forma, também desaceleramos em relação a esse ritmo da máquina. E neste caso as áreas verdes e os produtos com matérias-primas naturais (madeiras e fibras, por exemplo) nos ajudam nessa contemplação.
Esta tendência vem sendo estudada de forma mais sistêmica há pelo menos 5 anos, mundialmente recebe o nome de Urban Jungle e se estabelece numa forte relação com o orgânico, que vai desde pequenas hortas, passando por paredes verdes (jardins verticais) até residências inteiramente inseridas na Natureza.
Além de estar sendo observada, esta tendência, está sendo avaliada também. Diversos estudos demonstram que este tipo de vida surge como uma necessidade do nosso organismo, pois isto nos faz bem.
Como sempre, o ser humano descobre algumas coisas pela falta, vivemos milhares de anos mais próximos da Natureza, mas foi quando esta começou a desaparecer que sentimos a falta. Pesquisas demonstram que viver com a Natureza nos faz bem, e não apenas em ambientes residenciais, nos corporativos também. Um estudo de 2014 realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, foi o primeiro trabalho científico a avaliar a relação entre as plantas e o mundo dos negócios e da produtividade. Os escritórios que serviram de base para o levantamento estão localizados na Holanda e no Reino Unido. Esse relatório foi elaborado em parceria com as instituições de Cardiff Exeter e Groningen e os resultados apontam que ambientes que foram reformulados apenas com plantas as equipes apresentaram um aumento de 15% em produtividade.
No Brasil cometemos alguns enganos ao analisar essa situação, o primeiro está relacionado com a abundância de áreas verdes que o país tem em relação a outros países do mundo, acreditando que estas áreas bastam para satisfazer nossa necessidade humana. Esta tendência não tem a ver com um cálculo de áreas verdes por habitante, e sim com a proximidade ao natural. Mesmo morando no litoral e olhando todo dia para o mar, ainda assim temos a necessidade de viver mais próximos da Natureza. E, por incrível que pareça, no Brasil esta necessidade aumenta mais, pois temos também um vínculo cultural que na medida que sentimos e percebemos que quando essas áreas diminuem nosso corpo "reclama”.
Felizmente essa tendência tem se espalhado de forma rápida e está sendo socialmente bem recebida e já ultrapassou os limites do lar, indo para os espaços coletivos e urbanos. Diversos grupos, associações, Ongs e alguns solitários estão criando e cuidando de espaços abandonados na cidade e proporcionando a oportunidade para que as florestas retornem, que árvores nativas voltem a crescer, que rios entubados e escondidos voltem a aflorar e fluir livremente junto a nós. Curitiba pretende, a exemplo de Seul, aflorar seus rios escondidos, a meta é bem ousada: pretendem até 2034 recuperar os rios da Capital, tanto em termos de poluição, como a sua renaturalização. Seul é um grande exemplo que deveria ser seguido por várias cidades ao substituir avenidas de fluxo viário deixando voltar os rios que aí estavam canalizados. A cidade ganhou muito em qualidade de vida, segurança e habitabilidade, relacionamento social, as pessoas passaram a frequentar esses locais, antes cinzas e originalmente o motivo para se estabelecerem aí.
Mas, só o fato de alguns profissionais da área estarem levando esse pensamento adiante a seus clientes educando-os sobre a importância de viver assim, é um bom motivo de esperança para nossas cidades.

 * artigo publicado na revista MixDecor julho 2018

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