Visitei a Feira de Milão pela primeira vez em 1988, portanto em 2018 comemorei 30 anos dessa estreia.
Foi tão marcante que voltei nos dois anos seguintes. Trouxe novidades para a Revista Design & Interiores, com quem contribuía na época. Adélia Borges deu- me as dicas de abordar as empresas com um cartão que a revista me forneceu.
Depois, durante a década de 1990, voltei algumas vezes. De 2004 em diante visitei a feira praticamente todo ano, levando inúmeros profissionais e empresários de arquitetura e design de interiores. Recentemente, em uma conta rápida, conclui: foram mais de 500 profissionais que zeram meu curso e me acompanharam nessas visitas técnicas pela cidade. Sempre estive profissionalmente associado à cidade, a ponto que alguns acreditam que sou milanês.
Vi e vivi as mudanças que zeram dessa cidade a referência mundial que é em design.
Em 2018, também se comemora 10 anos desde que a feira se instalou no novo pavilhão, Milan Trade Fair Rho, projeto do escritório Fuksas. Em 2008 e eu estava lá!
Na primeira vez, na década de 1980 o que me chamou a atenção eram os conceitos do grupo italiano Memphis, fundado por Ettore Sottsass na década de 1970. Seu slogan “less is boring” em uma crítica direta ao racionalismo moderno do “less is moore”. Nessa visita, verificando e analisando outros produtos, achei que isso de fato estava mudando as coisas, esses objetos não eram os que mais vendiam mas, cedo ou tarde, o mundo iria receber essas ideias, e pensei em um futuro distante, de vinte anos. E vi um mundo mais humorado e colorido onde design tivesse importância e cada objeto ao nosso redor tivesse sido escolhido, também, pelo design. E acertei.
Constantemente eu repetia: Como pode Sérgio Rodrigues ganhar o prêmio de design do móvel em 1961 e continuarmos valorizando o que vêm de fora? Quando falava com estrangeiros do Design (e minha rede de amizades é muito boa) todos falavam “Brazil? Sim, poltrona Mole”, e nós desconhecíamos na épo- ca. Mais tarde, no nal dos 1990 e início de 2000, o
mesmo ocorreu com os irmãos Campana, muitos aqui diziam que isso não é design, e eu replicava é sim, é isso que move o interesse hoje, e aos poucos comecei a ver inúmeros profissionais brasileiros tirando foto com os Campanas em Milão, no estande da Edra. Pensei em um futuro onde o design brasileiro teria mais valor. E acertei de novo.
Reparem nos produtos da empresa Magis uma das vencedoras do Third Edition of the Salone del Mobile.Milano Award, é evidente a importância de Memphis para a produção contemporânea.
Milão é isso. Pensar no futuro.
Eu pedia a meus alunos, como trabalho final de curso, que entregassem um trabalho pictórico com seu olhar sobre a visita com o que mais chamou a atenção, e assim eu podia avaliar e perceber como esses carregavam valores das visitas. Hoje faço isso usando as redes sociais, em cada post entendo o que cada profissional foi fazer na cidade.
E me permito, dessa forma, fazer uma avaliação do momento atual. É ainda a semana que
mais movimenta pessoas e interesse mundial pelo design. A grande maioria não aproveita a viagem como estudos, muitos ainda se deslumbram com conceitos e ideias dos anos 1980, poucos perceberam objetos e designers com novos conceitos, Karin Rashid, Philippe Starck e Marcel Wander foram os mais fotografados, o Brasil precisa ir para Milão para ser conhecido pelos brasileiros, vergonha...
Creio que os próximos anos serão decisivos, as tensões radicais que o mundo passa e o debate sobre identidades que isso acarreta são as oportunidades para que Milão volte a trazer um de- bate mais profundo sobre os próximos 30 anos, e que os brasileiros façam do Brasil o lugar para o design acontecer.
Artigo publicado na Revista MixDecor - maio 2018
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