sábado, 30 de novembro de 2024

Inteligência artificial e o design de interiores

Inteligência artificial e o design de interiores

Alvaro Guillermo




Nestes últimos anos passamos a compreender melhor o significado da Inteligência Artificial (AI em inglês) e como convivemos com esta no nosso dia a dia. Está presente nos aplicativos que entendem como é nosso jeito de usuário, como Waze por exemplo que define rotas a partir de nosso jeito de conduzir, entre tantos outros.

Hoje com apps de AI estamos mais admirados ainda, como ChatGPT que está revolucionando a educação e colocando contra a parede inúmeras profissões.

Diante de todo este cenário o que podemos esperar num futuro próximo para nossas casas?

Uma dica já foi apresentada há 5 anos atrás pela Sony (em 2019) na semana de design de Milão. Por isso, quando visitamos a feira de Milão temos que ir com o olhar preparado para este tipo de análise, que é encontrar propostas para debater o futuro. Muitas vezes parecem absurdas ou distantes, mas, cinco anos passam muito rápido e é provável que em mais cinco anos algumas dessas propostas estejam em algumas casas.



O projeto nomeado Affinity in Autonomy , Afinidade na autonomia, propõe que a evolução dos objetos robóticos com AI será tão grande que nós seres humanos passaremos a ter afinidades por eles e vice-versa. Quando vivi essa experiência costumava dizer que esses robôs lembram minha border collie Gaia, que fica andando atras de mim pela casa toda, às vezes tenho que tomar cuidado para não bater com a porta nela.

Uma delas se baseia na iluminação, intitulada 'despertar', enfatiza como o aumento da consciência de nossos sentidos pode despertar um novo tipo de inteligência. Isto permite direcionar a luz de forma inesperada, a partir de uma inteligência. Se lembrarmos que hoje quando ligamos a luz parte de pontos fixos e aqui se propõe que a luz vai andar e direcionar feixes com livre arbítrio conforme a AI definir com a afinidade com o usuário.



Outra intitulada 'concordância', mostra que os objetos, como os humanos, terão suas próprias personalidades distintas. irão interagir, colaborar e agir de acordo com aqueles ao seu redor. no entanto, com movimentos imprevisíveis podendo até desencadear a formação de comunidades. Na mostra utilizaram cubos e esferas, mas imagine no futuro bancos, pufes, mesinhas andando pela casa, atrás dos usuários, ou fugindo deles. Sim! Porque tem pufe que não merece o dono. Bem se a Alexa já está no comando de sua casa, ou de seus projetos, comece imaginar como serão seus projetos para permitir toda esta afinidade e autonomia.




artigo publicado na MixDesign 79 em 2024








terça-feira, 12 de novembro de 2024

O futuro das cidades e as cidades do futuro.

Diante dos últimos desastres climáticos o mundo inteiro passou a entender a urgência de debater questões simples para a sobrevivência da espécie humana.

Isto parecia algo raro para o Brasil, a não ser pelas secas e incêndios recorrentes destas secas.

Mas as chuvas e alagamentos deste ano no Rio Grande do Sul demonstraram que temos muito mais com o que nos preocupar.

Algo que vem ocorrendo há muito tempo em várias cidades brasileiras, mas, que passado o evento climático é esquecido. Todo ano a cidade de São Paulo alaga com as chuvas de verão, a maioria esquece que São Paulo é uma cidade de rios (ver mapa), por baixo dessa cidade de asfalto e concreto existem milhares de córregos, riachos, rios e nascentes que emergem com as chuvas, que correm mais rápido pela cidade impermeável.


Rios da cidade de SãoPaulo



Balneário Camboriú em Santa Catarina, Olinda em recife e Fortaleza em Ceará, por exemplo, já não tem praias. As construções próximas à orla e a elevação do nível do mar tem acabado com a área de areia. Rio de janeiro registra frequentemente a invasão do mar nas avenidas da orla.

Santos não será diferente. Uma ilha com canais depende totalmente das marés oceânicas e da elevação do nível do mar.

Independente dos motivos, se trata de uma discussão longa, o certo é que nos últimos cem anos o nível do mar subiu 20 cm, crescimento que vem ocorrendo de forma exponencial, tendo a maior evolução de 2012 a 2023, ou seja, esta última década.

O importante neste momento é que arquitetos e designers se envolvam neste debate e apresentem ideias para retomar a pauta de uma visão de futuro das nossas cidades, que cidades gostaríamos de ter? Em que cidade gostaria de viver?

Precisamos desenvolver e disseminar pesquisas transdisciplinares focadas nas mudanças climáticas e bem-estar urbano social, cultural e espacial.

Cem anos atrás a visão de futuro eram cidades de concreto escuras e totalmente dependente das máquinas. Como mostra o filme Metrópoles de Fritz Lang ou a capa do livro Future Cities: Architecture and the Imagination de Paul Dobraszczyk. Será que acertou?


Fritz Lang. Film still from Metropolis. 1927 | MoMA


Future Cities: Architecture and the Imagination de Paul Dobraszczyk.



40 anos atrás a visão de futuro era de cidades tecnológicas, a alta tecnologia moldando o urbano. É isso que estamos vivendo?

E hoje, como vemos as cidades no futuro? Como você imagina que seria o futuro ideal de nossas cidades?

Muitos estudiosos estão apostando em cidades focadas no ser humano e na natureza, ou seja, sustentáveis.

Saímos da mata e do rural, com medo da solidão na natureza (fauna e flora) para viver em locais que passamos a chamar de urbes, polis, cidade, urbano. E em muito pouco tempo percebemos que o extremo não foi uma boa solução. Temos que alterar o foco com urgência, iniciando o quanto antes esta mudança. Principalmente porque a Natureza segue a ordem analógica do tempo certo de crescimento. Para termos árvores no futuro, precisamos começar o plantio já. Para termos águas limpas no futuro, precisamos tratar e cuidar da nascente já.

Repare na linha do tempo qual você escolhe?





artigo publicado na Revista MIXDesign 78





segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Cidades para o ser humano.

A maioria das cidades foram pensadas para atender máquinas e automóveis, existe um posto de abastecimento de combustível em trechos curtos de circulação, às vezes em menos de 100 metros de distância encontramos dois ou três. Mas, não encontramos apoio ao ser humano nesse mesmo espaço, faltam bancos de descanso, áreas de sombreamento, entre outros. As cidades devem ser pensadas para o uso público do ser humano e um dos pontos mais evidentes desta desconsideração com o ser humano é a falta de banheiros públicos decentes com cuidados higiênicos que permitam, de fato, seu uso.


Os banheiros são um símbolo da cultura de hospitalidade do Japão mundialmente reconhecida. Reforçando esse conceito surgiu o projeto Tokyo Toilet, são 17 instalações projetados por arquitetos famosos e premiados como Tadao Ando e Kengo Kuma, que também serviram de cenário para o filme os dias perfeitos, indicado ao Oscar 2024.


As características formais e estéticas dos banheiros proporcionam ao local que estão instalados a referência urbana, proporcionando também à comunidade que mora na região um alto grau de pertencimento. Isto colabora para a preservação e cuidado dos ambientes, mesmo já tendo uma zeladoria especializada (representada no filme) e tecnicamente projetos que atendem às necessidades de higiene e inclusão. Isto também ajuda a promover e disseminar a importância da higiene pessoal, o que traz como consequência imediata a melhoria de qualidade de vida e saúde, e desta forma menor uso do sistema de saúde público.


Amayadori, Jingu-Dori Park, de Tadao Ando



O arquiteto Tadao Ando, vencedor do prêmio de Pritzker, desenvolveu este banheiro público circular com elemento vazado de metal vertical, criando privacidade, e mantendo a circulação do ar.

A altura e cobertura foi estruturada entre as cerejeiras no parque Jingu-Dori.

Segundo Ando "era vital criar um espaço confortável e seguro", ​​que denominou de Amayadori – (abrigo de chuva em japonês).



Banheiro, estação Ebusi, de Kashiwa Sato


O designer Kashiwa Sato, que criou o Branding para a varejista de roupas japonesas Uniqlo, criou esse banheiro quadrado a partir de frisos brancos de Alumínio. As instalações brancas e brilhantes geram aparência de limpeza. Sato quis criar um símbolo do bairro.




Banheiro, parque comunitário Haru-no-Agawa, por Shigeru Ban


Ban, vencedor do prêmio de Pritzker, desenhou 2 banheiros que ficaram famosos pelos materiais escolhidos de forma inusitada. O vidro colorido nas paredes transparentes, dá segurança higiênica e permite verificar se estão em uso.

Assim que o usuário entra e fecha a porta as fachadas coloridas dos banheiros se tornam opacas dando privacidade.  São três ambientes separados - um masculino, feminino e banheiro acessível - divididos por paredes espelhadas.



Banheiros públicos em Shibuya:

São 17 banheiros públicos em Shibuya redesenhados por 16 criadores do mundo todo, seguem em ordem alfabética: 

Fumihiko Maki, Junko Kobayashi, Kashiwa Sato, Kazoo Sato, Kengo Kuma, Marc Newson, Masamichi Katayama, Miles Pennington, Nao Tamura, NIGO®, Shigeru Ban, Sou Fujimoto, Tadao Ando, Takenosuke Sakakura, Tomohito Ushiro, Toyo Ito.


Artigo publicado na Revista MixDesign 77




quarta-feira, 6 de novembro de 2024

APRESENTAÇAO DE VALORES PARA O POSICIONAMENTO DA MARCA , por Alvaro Guillermo

O mercado exige, cada vez mais, que as empresas deixem claro seus valores, a missão e principalmente a origem de seus produtos e serviços. Na área da criatividade isso tem sido mais frequente, e arquitetos e designers não devem ficar atrás.

Studio Tom Dixon - London

Pesquisa recente da Accenture mostra que 79% dos consumidores brasileiros querem que as empresas se posicionem em relação a assuntos importantes em áreas como cultura, meio ambiente e política. E 83% preferem comprar de marcas que defendem propósitos alinhados com seus valores e são transparentes em relação a origem de seus produtos.


E o mercado de luxo, que tem um público mais atento a questões ambientais e políticas, tem tomado decisões de compra de produtos e serviços a partir da identificação com os valores da marca. Desde o tênis Destroyed Balenciaga à contratação ou não de criativos como Calatrava, o escritório MVRDV ou Jean Nouvel.


Principalmente arquitetos devem tomar a iniciativa em questões ambientais, climáticas, urbanas e sociais. Podem inclusive empreender e dar o exemplo como fez Tom Dixon em Londres, instalando seu Studio e fábrica numa área abandonada no entroncamento da estação central de trem e metrô. Desta forma sua instalação acabou contribuindo para a revitalização da área. Hoje um dos metros quadrados mais valiosas da cidade e mais visitadas tambem, em pleno crescimento.




Ou como fez a arquiteta Gelissa Cazarini em Piracaia, SP, instalando seu Studio no antigo cinema da cidade. A revitalização da fachada é um exemplo de empreendedorismo feminino e de altíssima contribuição social, impulsionando os vizinhos a seguir o mesmo caminho.




Outro ótimo exemplo é de Alagoas das irmãs arquitetas Ana Maia e Rosa Piatti, instalando o ateliê e loja no histórico mirante Santa Terezinha. Devolvendo à cidade um ponto turístico esquecido e abandonado. Ainda contribuiram com uma intervenção artistica que estimulou a cidade a repetir o mesmo exercicio em outros locais.

Essa força que os arquitetos e designers têm de conseguir enxergar o futuro, por isso a palavra é projeto, pode e deve se ser usada como ferramenta empreendedora. Deixando claro sua identidade, ideias e valores, isso irá contribuir para que sua marca se fortaleça junto a seu verdadeiro público e clientes.


originalmente publicada na Revista MixDesign 74






terça-feira, 5 de novembro de 2024

 ARQUITETURA DE LUXO E UM NOVO CONCEITO DE INTERIORES

POR ALVARO GUILLERMO


Como vimos nos artigos anteriores o conceito de luxo mudou, então o que caracteriza casas com arquitetura e interiores de luxo? O que agrega valor ao imóvel posicionando-o no mercado de luxo?



Obviamente o primeiro ponto, mas não o mais impor-tante, é a localização. Estar num condomínio de luxo, não necessariamente define a arquitetura de luxo, mas ajuda. Acesso ao local, segurança, áreas verdes preser-vadas e protegidas, boas dimensões dos lotes e sua posição em relação ao meio ambiente são pontos básicos.

No entanto é bom ressaltar que alguns empreendimentos de altíssimo padrão não tem acesso fácil. O Reserva Pituba em Alagoas é um condomínio que seu acesso se dá por aeroporto dentro do condomínio, chegando de jatinho e daí ao seu lote pode ir num voo curto de helicóptero ou carro. Isso permite que os moradores sejam de diversas cidades do país e exterior. O mesmo ocorre com algumas marinas e casas no litoral como Angra dos Reis onde o acesso é por iates pelo mar. Em todos estes casos o luxo está presente mais na relação com a natureza e o acesso é uma consequência.


A arquitetura de luxo valoriza o tempo do morador na sua casa, assim, a relação com o natural é prioridade, desta forma a arquitetura disponibiliza grandes áreas iluminadas, aberturas que permitem a entrada total da iluminação e ventilação natural. Por isso, estas casas tem estruturas que permitem grandes vãos livres. Muitas vezes à mostra, ou seja, o concreto aparente é um sinal que a estrutura foi pensada juntamente com a arquitetura. O mesmo ocorre com metal e madeira e em diversos ambientes.
Estes vãos livres com a abertura total das janelas permitem uma integração do interior com o exterior, e em seu uso diário as pessoas percorrem os ambientes sem perceber se estão dentro ou fora, é o que chamamos de In-out. Muitas marcas europeias de mobiliário vêm apresentando este conceito há mais de dez anos. Empresas como a Driade utilizam o mesmo mobiliário publicidades com fotos de interiores e exteriores, com chuva, neve e sol, tentando traduzir este novo conceito. A coleção de móveis
'Oh It Rains Outdoor da B8-B Itália desenhada por Philippe Starck é apresentada como uma sala de estar, só que pode ficar no exterior e na chuva.



Isto modificou totalmente o conceito de design de interiores, já que o ambiente tanto pode eventualmente estar com uso de interior como de exterior. O que também altera a escolha de materiais de acabamento e produtos como poltronas e sofás por exemplo. Seu design permite ser a extensão de uma sala de estar interna, ou ao mesmo tempo, a extensão de uma área gourmet, de piscina ou até de tudo ao mesmo tempo. Desta forma o sofá deve ser pensado para sofrer com a ação da intempérie, de pessoas sentando molhadas, ou usando roupas de festa.


No caso do Brasil este conceito parece ainda mais adequado, o clima tropical favorece a estar em casas onde não temos tanta necessidade de abrigo e sim mais de curtir a natureza, o que é um verdadeiro luxo. A Tidelli tem desenvolvido produtos desde sua origem com este conceito permitindo por exemplo refeições ao ar livre, um café da manhã com a vista para o mar, sentindo o cheiro, a brisa e o som da natureza. E a noite no mesmo ambiente um jantar ao luar. Esse é um dos conceitos que permitem valorizar o imóvel e classificar no mercado premium.

Artigo publicado originalmente na Mix design 72



segunda-feira, 3 de junho de 2024

Design centrado no Ser Humano.

 

Design centrado no Ser Humano


 

O título parece óbvio, todo projeto deveria ser centrado no ser humano, mas não é. 
Em diversos momentos da nossa história o design e a arquitetura dedicaram mais atenção a outros fatores, deixando o próprio ser humano quase que esquecido ou como mero espectador da obra.

De forma rápida vou exemplificar: durante a Idade Média o foco foi a ideia de Deus no comando, por isso o estilo Gótico que se origina nesse período, tem cobertura pontiagudas apontando para o céu que remete ao lugar de Deus. 

Mais recentemente, durante o século XIX e XX com a Revolução industrial, as ideias de inovação estiveram ligadas à máquina, consequentemente os modos de produção mudaram as obras que passaram a ser desenvolvidas com essas novas tecnologias. Até hoje esse conceito industrial está muito inserido nas criações de arquitetura e design, muitas casas e seus ambientes foram desenhados em função de máquinas sem levar em consideração o ser humano que iria ocupá-las. 
chegada da televisão foi um caso, a sala de estar passou a ser pensada em função desse aparelho. O ambiente de estar, que era em círculo para que as pessoas pudessem conversar e se ver, passou a ser desenhado em função da posição da televisão e as pessoas dispostas em volta. Ou seja, o valor principal é uma máquina e as pessoas espectadores.
Hoje, quando tratamos da importância do projeto (seja arquitetura ou design) centrado no ser humano, estamos tratando da importância da casa ou impacto da construção na vida de nosso planeta, pois isso afetará consequentemente o ser humano. 
Estamos nos referindo a todas as pessoas e não apenas aos seus usuários. Desta forma, pensar prioritariamente no ser humano cria uma responsabilidade planetária, ecológica, sustentável e de futuro.  
A construção civil costuma ter uma vida útil maior que de seus ocupantes ou proprietários, a construção de uma casa ou edifício carrega consigo um impacto temporal de séculos e ecológico incalculável. Por este motivo vamos ouvir muito falar em design centrado no ser humano e na natureza, entender que nós fazemos parte deste ecossistema e a nossa sobrevivência, como espécie, depende da sobrevivência deste ecossistema natural. Cada descarte de obra é um impacto negativo, cada ambiente mal projetado exigirá mais recursos o que aumenta o impacto negativo, a falta de ventilação exige uso de energia e máquinas de ar condicionado, a falta de iluminação idem. 
Projetos centrados no ser humano demonstram o respeito ao outro e ao entorno. É a ideia de inclusão, onde todos são atendidos. 
Apesar de existirem metodologias de projeto (DHC), livros e artigos a respeito, prefiro tratar o tema como um princípio filosófico. 
A palavra Filosofia é de origem grega, e significa “amor à sabedoria”, ou seja, o principal é refletir sobre questões fundamentais da vida humana, como o projeto pode contribuir para viver melhor. Mesmo que não exista uma única resposta, devemos sempre de nos fazer essa pergunta.

 

texto originalmente para revista Mix Design 04 2024