segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Entre a Casa e o Lar.

 Existem alguns conceitos que se confundem, por vezes equivocadamente, mas muitas vezes pela proximidade e intimidade com que são tratados e observados. O habitat, a casa, o apartamento, a moradia, o domicílio, o lar, o edifício, a arquitetura e os objetos, principalmente.

É uma discussão que se aprofunda em suas especialidades, mas também circula na interdisciplinaridade que esse espaço permite. 

 

A noção exata só pode ser compreendida após a vivência desses espaços, e aí entra a relação temporal, pois nesse tempo de vida, a experiência imprime novos conceitos como identidade, memória, símbolos, signos, imagem, imaginação, paisagem, refúgio, entre outros. Acreditamos nos segredos da intimidade que a casa nos proporciona mesmo que possamos ser observados por curiosos sem ter ciência disso. Demarcamos os limites de territórios públicos e privados, do individual e do coletivo. Mas, quando ampliamos a distância de observação da nossa casa esses se confundem com o bairro, a cidade e até nosso planeta.

 

Já na origem, a palavra grega Oikos que tem em sua tradução Eco, trazia vários significados, podendo ser apresentados hoje como “casa”, “ambiente habitado” ou “família”. Era uma unidade da sociedade, uma organização social hierarquizada da vida particular, dos interesses privados, diferentes dos públicos para a qual se utilizava a palavra Polis. Uma linha de descendência de pai para filho, de geração em geração. 

A composição da palavra Oikos também dá origem às palavras ecologia (estudo ou saber da casa) e economia (do grego Nomos que significa norma ou lei da casa) que, associados ao social, formam o tripé de um dos conceitos mais urgentes e mais abordados na atualidade: a Sustentabilidade.

 

“É evidente que o lar não é um objeto, um edifício, mas uma condição difusa e complexa que integra memórias e imagens, desejos e medos, passado e presente. Um lar é também um conjunto de rituais, ritmos pessoais e rotinas da vida quotidiana. O lar não pode ser produzido de uma só vez; tem sua dimensão temporal e contínua e é um produto gradual da adaptação da família e do indivíduo ao mundo. ” Arq. Juhani Pallasmaa

 

Ao longo do tempo da humanidade muitos desses conceitos foram mudando, com novas tecnologias, novas organizações sociais, políticas e econômicas. Não somente nas questões formais, geométricas, materiais e racionais, mas também as realidades sociais, mentais, simbólicas e poéticas da casa e do lar.

Alguns exemplos são claros: no passado nos reuníamos em torno do fogo de chão, depois esse fogo sobe em tochas e velas em candelabros, que se tornam lâmpadas de lustres com a energia elétrica, que possibilita o rádio e a televisão. E, agora, está em celulares e outros aparelhos móveis... a luz migrou para pequenas telas que levamos junto conosco. Sentávamos para conversar e ouvir histórias, hoje digitamos e vemos imagens.

Por estes motivos é importante manter sempre a reflexão sobre o modo de vida, os ambientes da nossa casa e os locais de convívio social. Nos últimos anos fomos obrigados a nos isolar e percebemos que a nossa casa estava em segundo plano nas nossas vidas. 


Matéria publicada originalmente na revista MIX Design 68 Dez 2022




terça-feira, 6 de setembro de 2022

200 anos de Brasília em Santos. O protagonismo da cidade na capital do país.

 Quando falamos na história da nova capital, Brasília, geralmente lembramos da autoria de três pessoas: Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Raramente recordamos a importância que esse tema teve, em 1822, e que a cidade de Santos desempenhou um papel imprescindível para esse fato pudesse ocorrer. 



 

Também pensamos em Brasília como uma cidade nova, de 62 anos de construção, é verdade, mas a ideia de mudar a capital do Rio de Janeiro para o interior, é muito anterior.

 

Desde de 1822, quando se toma a decisão de separar o Brasil de Portugal, começa-se a pensar, estrategicamente, em mudar a capital para o interior. Nesse momento passa a ter um papel especial o santista José Bonifácio de Andrada e Silva que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823, e conselheiro de D. Pedro I. 




 

Bonifácio é reconhecido por vários feitos militares e políticos e pelo Manifesto Paulista, uma carta escrita por José Bonifácio de Andrada e Silva, no Solar dos Andradas, em dezembro de 1821, onde solicita a D. Pedro que não cumpra as ordens vindas de Lisboa e permaneça no Brasil, atendendo ao desejo dos paulistas.

 

Vários motivos fortaleceram a ideia da mudança, afastar do conceito português impregnado no Rio de Janeiro e, principalmente, buscar a interiorização da capital longe do ataque de navios e perto de rios que ligassem o sul ao norte do país.

 

Bonifácio articula essa mudança a partir da independência e o mais importante: nomeia a cidade em carta à Assembleia Constituinte, propõe a interiorização da capital para o Planalto Central e sugere que seja batizada de Petrópolis ou Brasília.

 

Assim, na Constituição de 1891, a mudança a capital no centro do Brasil se transformou em Lei.

 

Cem anos mais tarde, em 1922 , durante as celebrações do Centenário da Independência do Brasil, foi inaugurada a Pedra Fundamental da futura capital. E só em 1955 durante um comício em Goiânia, o então candidato à presidência Juscelino Kubitschek, se propôs a respeitar a constituição. Nesse evento, Juscelino foi pressionado por um eleitor que pergunta se iria mudar a capital para o planalto central, como constava na Constituição de 1891. Juscelino promete não apenas iniciar a mudança como inaugurar a capital. Movimento que ficou conhecido como 50 anos em 5. Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, mas essa é outra história, que a maioria já conhece.

 

Em setembro deste ano comemoraremos 200 anos de independência do Brasil, um movimento importante para nosso país, com papel fundamental de um santista, que da origem também à nova capital, um exemplo de urbanismo, arquitetura e design moderno brasileiro para o mundo.




Artigo publicado na Revista MixDesign ago/set 2022

segunda-feira, 18 de julho de 2022

O Novo Luxo e as mudanças na arquitetura e no design.

 O Novo Luxo e as mudanças na arquitetura e no design.

Alvaro Guillermo

 

A ideia de luxo está associada aquilo que nos é raro e, portanto, caro – não necessariamente à riqueza material e financeira –, mas aquilo a que de fato damos valor. Lembra do uso da palavra em conversas como “meu caro amigo”?

 

Na origem a palavra luxo vem do Latim LUXUS, que significa excesso, extravagância, magnificência. Provavelmente deriva de LUCTUS, “deslocado, esticar, tensionar” (daí a palavra “luxação”) trazendo o sentido de fora de lugar. 

Luxo também tem relação com LUX do Latim, que é luz, brilho, por isso por muito tempo luxo esteve associado a tudo que brilhava em excesso. 

 

Em toda a antiguidade houve reverência ao brilho e consequentemente ao Sol, temos inúmeros exemplos em diversas culturas, tendo seu auge no período conhecido como Rococó, durante o século XVIII, e como grande referência na arquitetura e decoração o estilo Luís XV, em homenagem ao Rei Luis XV da França. 

 

Luis VX nasceu em Versailles que é um dos maiores ícones desta imagem que o luxo transmitia. Mas, também é importante lembrar aonde tudo isto levará anos mais tarde com o casamento de Luís Augusto com Maria Antonieta: a queda da Bastilha, guilhotinas e a Revolução Francesa.

 

Outra palavra que se origina de LUXUS é Luxúria que significa desregramento sexual e também associada a cobiça ou apreço por bens materiais, ou seja: excesso e algo fora de lugar.

 

Esta introdução é importante para entender o impacto que o luxo carrega na relação de extravagância representada pela arquitetura e pelos objetos da decoração com a sociedade mais favorecida, a elite econômica.

 

O mundo mudou muito e a velocidade tomou conta de tudo. Praticamente não temos tempo para fazer mais nada, estamos sempre correndo de um lado para o outro. O tempo passou a ser o item mais valioso de nossas vidas. Esta nova relação com o tempo muda radicalmente no nosso habitar e com os objetos de nosso entorno. 

 

A arquitetura residencial passa a dar mais valor ao ficar em casa, conceito potencializado pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido é importante reforçar que esta é uma tendência que precede a pandemia, e que o isolamento forçado só aumentou a percepção da necessidade disso. Ter tempo para curtir a casa e realizar inúmeras tarefas que nos dão prazer, com qualidade, passou de um luxo desejado a algo necessário para viver bem. 

Essa tendência vem sendo reforçada pelo crescimento do movimento slow, principalmente do Slow Design que apresenta espaços, ambientes e objetos onde o tempo do ser humano está presente, por isso, a valorização do feito a mão em contrapartida do que é realizado velozmente pela máquina.

 

A casa, como construção, passa a ser pensada para o ser humano e a arquitetura vai priorizar isto, e não a riqueza dos materiais construtivos. É nela que podemos imprimir nosso conceito de vida e que conseguimos sentir a importância de viver bem, quando esse pouco tempo que temos para nós mesmos tem valor especial. A inserção de nossas identidades em nossos ambientes é importante para o reconhecimento do que somos e do que queremos ser, e não do que temos ou queremos ter, ou seja, passamos a entender o prazer de viver em ambientes com os quais nos identificamos e, quando atingimos isso, sentimos isso como luxo – devido ao valor que lhe damos.

 

O luxo contemporâneo não está focado no que temos e adquirimos, ou seja, na materialidade (muito menos que brilha e reluz) e, sim, será encontrado em tudo que nos remete a valorizar nosso tempo de vida e nossas identidades. Mais importante que ter um vaso de cristal é ter um vaso com o qual nos identificamos, porque conhecemos sua origem ou o artista que o executou. Uma casa luxuosa tem uma história para contar.

 

Um bom exemplo disto é o resultado do concurso de arquitetura de luxo PRIX VERSAILLES (da UNESCO) 2018 conquistado pelo hotel Casa Cook Kos, recém-inaugurado na Grécia, autoria de Mastrominas ARChitecture um dos escritórios mais famosos de projetos de hospitalidade de luxo, com vários prêmios internacionais por sua arquitetura inovadora e exclusiva baseada na reinterpretação da arquitetura tradicional grega, mas com um vocabulário moderno. São 100 quartos que contam com luxos pequenos e grandes, com casas cubistas de um e dois andares, agrupadas em torno de jardins e pátios. Os móveis com linhas limpas combinam-se com texturas naturais e ásperas e acessórios exóticos para criar o um verdadeiro santuário.  “Não importa qual o nível de luxo que você escolhe, o estilo discreto é fornecido com muito conforto” afirma o hotel.

 

Outro exemplo disso é o hotel Fasano Las Piedras em Punta del Este Uruguay, projeto de arquitetura de Isay Weinfeld, instalado numa paisagem dramática e deslumbrante: árida, rochosa e de vegetação esparsa e rasteira. As unidades que compõem o complexo, foram concebidas e distribuídas como módulos isolados de concreto, pousados sobre o terreno, como as próprias pedras que existiam no local, preservando as características rústicas e artesanais.

 

Se a sua vida anda muito longe de cristais, prata, ouro e veludos, mas você tem real noção do tempo de sua vida aproveitando ao máximo cada momento que o universo lhe oferece, como apreciar o pôr-do-sol ou um bom vinho com os amigos ao redor do fogo, então sua vida é um luxo.





artigo publicado originalmente na Revista TriNova Piracicaba junho 2022

https://hubtrinova.com/o-novo-luxo-e-as-mudancas-na-arquitetura-e-no-design/



domingo, 19 de junho de 2022

Arquitetura e o lugar comum

 Estamos acostumados a conviver em espaços muito similares, salas de estar, de jantar, quartos, cozinhas, varandas, piscinas, bares, restaurantes, hotéis, praças enfim a maioria dos ambientes projetados são muito similares.

Mesmo que alguns apresentem fortes valores estéticos e visuais e, desta forma, aparentemente se diferenciam dos outros, ainda assim são raros aqueles que nos propiciam uma experiência inovadora e marcante. Por isso, vivemos envolvidos com o lugar comum, entendendo comum aquilo que se aplica a várias pessoas ou coisas, que é semelhante ou idêntico, e/ou que pertence a muitos ou a todos.

Para se ter uma experiência nova é preciso sair do lugar comum, já que experiência pressupõe o conhecimento ou aprendizado obtido através da prática ou da vivência, ou seja, aquilo que nossos sentidos percebem a partir da presença fisicamente no ambiente.

Num mundo altamente dominado pela tecnologia digital passamos a valorizar cada vez mais a oportunidade de viver momentos singulares de experiências em ambientes físicos e naturais e, por este motivo, permanecem mais ativos em nossa memória.

Lógico que criar esses espaços não é algo simples, e fazer isso preservando a funcionabilidade do ambiente, dentro de normas técnicas e padrões técnicos é mais complexo ainda, por isso a atividade compete a profissionais habilitados.

Mas, talvez seja esse um dos principais pontos que diferenciem, hoje, os grandes arquitetos e designers do mundo.

 

Ciente disto o artista argentino Leandro Erlich, que divide sua vida e trabalho entre as cidades de Buenos Aires e Montevidéu, tem criado instalações que desafiam os sentidos, e nos levam a analisar como as pessoas reagem e percebem estes ambientes que colocam o ser humano numa nova perspectiva e fora do lugar comum.

A reação é quase unânime, perceptíveis por todos que estão em volta, seja de felicidade, angustia, enjoo, inúmeras emoções que a grande maioria prefere registrar e guardar esse momento realizando muitas fotografias e postando e suas redes sociais. É importante lembrar que Leandro realiza este trabalho muito antes do Instagram, e não é a intenção promover o aplicativo com sua arte, mas, sem dúvida, o aplicativo tem milhares de fotos de seu trabalho pelo mundo.

Sua obra causa estranhamento, por nos colocar em ambientes que aguçam nossos sentidos, desafiando o mundo físico e principalmente mudando o papel do visitante de espectador para o ator principal da obra.

E é aqui que reside nossa reflexão para a arquitetura e interiores, além da arte, o ser humano não deveria ser o ator principal dos ambientes?

Ambientes não deveriam nos permitir uma experiencia única e singular?

Que ambientes poderiam propiciar isto?

De fato, a única resposta é que a obra de Erlich nos faz pensar seja como arte, arquitetura ou interiores.




artigo publicado originalmente na revista Mix Design junho 22

domingo, 20 de fevereiro de 2022

100 anos da semana moderna de 22. E o impacto na arquitetura e interiores.

 De 11 a 18 de fevereiro de 1922, ocorreu, na cidade de São Paulo, o que foi nomeado como a Semana de Arte Moderna – a manifestação de diversos intelectuais paulistas e cariocas sobre aquilo que “havia de mais rigorosamente intelectual no mundo das artes”1, da escultura, pintura, literatura, música e arquitetura.  ( Apesar de ter tido apenas 3 dias de espetáculos ficou conhecida como a Semana moderna).


 

Nesse grupo de intelectuais, destacavam-se grandes nomes, como a pintora Anita Malfatti, os escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, o escultor Victor Brecheret, o arquiteto espanhol Antonio Garcia Moya e o suíço John Graz, apresentado na Semana como pintor, mas que também atuaria bastante com o design da forma mais completa que conhecemos, desenhando desde maçanetas, mobiliário e luminárias a interiores, assim ele foi o representante de nosso segmento.

Logicamente que a turbulência estética mundial – principalmente a europeia, ao abandonar a linguagem que vigorava no século XIX – e os movimentos de vanguarda, como o cubismo, o expressionismo e o futurismo, influenciaram esses intelectuais, já que a maioria tinha educação europeia e era recém-chegada de lá. Havia um grande interesse na liberdade de criar e na experimentação, em romper com o que representava o passado. Isso passou a ser esse criativo moderno.

O que nos motiva neste artigo está, porém, além disso. Trata-se da busca por uma linguagem brasileira, apresentada claramente no Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, que pregou a “digestão” dos valores importados e a criação de uma identidade brasileira, uma brasilidade marcada pelo senso de humor e ironia, e declarou “TUPI OR NOT TUPI”.

O Brasil daquele início de século XX começa a apresentar potencialidades para o desenvolvimento de algo realmente novo, criativo e com uma nova linguagem brasileira. Algo que poderemos chamar de brasilidade, afinal. Nessa ideia, ainda se entende um rompimento com os valores estéticos predominantes, importados principalmente da Europa: semente necessária para o entendimento dos próximos passos que iremos abordar – que, se fosse focado nas artes, seria um longo artigo, mas o foco aqui é Arquitetura e Design.

Logo na sequência, chega ao Brasil o arquiteto russo Gregori Warchavchik – natural de Odessa, na época parte da Rússia e hoje Ucrânia –, que trazia consigo as ideias de Walter GropiusMies van der Rohe e Le Corbusier. Apesar de o nosso País não ter, então, conhecimentos claros sobre os papéis do arquiteto e do engenheiro como já existiam em outros países, foi esse clima de modernismo que motivou Warchavchik a aplicar esses conceitos.

Dois anos depois de sua chegada, Warchavchik escreve um artigo intitulado “Futurismo? Acerca da Arquitetura Moderna”, considerado o manifesto da arquitetura modernista no Brasil. O artigo expõe algumas ideias do arquiteto sobre o novo padrão de estética arquitetônica que estava florescendo, demonstrando a necessidade de as edificações acompanharem a evolução tecnológica, modernizando-se: não apenas com a utilização de técnicas construtivas, mas principalmente em relação à estética da construção, estética esta entendida de forma mais “limpa”, desprovida de ornamentos inúteis que não eram coerentes com o novo estilo de vida moderno brasileiro. Dessa forma, assim como os modernistas de 22, Warchavchik defendeu a arquitetura livre de valores do passado, mas atada aos valores novos da modernidade.



Assim, no seu primeiro exercício, constrói sua casa em 1927, na Rua Santa Cruz, no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. A obra foi concluída em 1928 e é considerada a primeira casa modernista2 do País, ( e hoje segundo Framptom a primeira do mundo), conseguindo refletir essa que seria a “essência” nacional. Logicamente que a conclusão da obra foi um choque para a sociedade, acostumada com palacetes estilo francês. 

No seu exterior, a casa contava com um projeto paisagístico moderno de autoria de sua esposa, Mina Klabin Warchavchik. Como era de se esperar, o casal levou o conceito de modernidade aos mínimos detalhes da habitação, e, dessa forma, foi necessário desenhar todo o interior da casa, os móveis, a iluminação. A decoração precisou ser toda desenhada pelo arquiteto, dando início aqui ao entendimento de um Design brasileiro, feito no Brasil com inovação e apoiado num discurso claro (apresentado por meio de um manifesto – coisa comum à época), de acompanhar a evolução tecnológica.

 

1.     Gonçalves, Marcos Augusto. 1922, a Semana que Não Terminou. São Paulo, Companhia das Letras, 2012.

2.     A casa, hoje pertencente ao Estado de São Paulo, foi tombada em 1980 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado e reconhecida como Patrimônio Histórico pelo IPHAN, tornando-se um parque.


artigo originalmente publicado na MixDesign fev22




segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

NATAL POR TRÁS DOS VIDROS

 NATAL POR TRÁS DOS VIDROS

Especialista em design e arquitetura, Alvaro Guillermo dá dicas de como desenvolver uma vitrine criativa para o final de ano sem gastar muito.

por Bianca Bellucci




No destaque, foto de vitrine foi realizada pelo Alvaro para uma loja de móveis. Ele aproveitou que o logo da marca era dourado para misturar com o branco (cores mais usadas no fim de ano). A poltrona faz uma analogia à poltrona que o papai-noel senta para distribuir presentes.



"criar vitrines comemorativas que não se identifiquem com a marca é um erro comum."Alvaro guillermo

Há 33 anos no mercado de design e arquitetura, Alvaro Guillermo é fundador da Mais Grupo (agência que desenvolve estratégias criativas paramarcas) e professor de MBA do curso de Ciências do Consumo na ESPM. Especialista em design estratégico, branding e consumo, ele deixou sua rotina de lado para conversar com a Christmas News sobre o visual que as vitrines devem ter no Natal.


Acompanhe as dicas de Guillermo para chamar a atenção dos clientes sem gastar muito e ter sucesso na época mais especial do ano.


Christmas News: Como se deu a evolução das vitrines até os dias de hoje?


Alvaro Guillermo: O conceito de vitrines que conhecemos hoje surgiu em Paris, na França, junto às máquinas fotográficas. Na época, as pessoas andavam pelas ruas, achavam uma fachada interessante, fotografavam e essa imagem acabava correndo o mundo. Em determinado momento, alguém percebeu que se colocasse seu logo naquela composição, sua marca poderia ser conhecida em diferentes locais do planeta. Sobre sua função, é simples: ativar a memória das pessoas. Atualmente, com a era dos smartphones, todo mundo consegue fazer uma foto. Porém, criar uma vitrine a ponto de chamar a atenção de alguém e conseguir ser lembrado por ela, está bem mais complicado.


CN No Natal, com tantas vitrines decoradas e similares, fica ainda mais difícil lembrar em

que loja uma pessoa viu determinado produto. Como é possível se destacar?


AG A grande falha - e que ocorre em qualquer data comemorativa, não apenas no Natal - é criar vitrines que lembram a festividade, mas não trazem a identidade da marca. No momento de montar sua vitrine, você deve pensar o que o tema tem a ver com sua empresa, como você vê o Natal e de que forma pode retratá-lo. Tenha sempre como exemplo a Coca-Cola. A empresa criou uma campanha de marketing tão forte que hoje não conseguimos pensar em um Papai Noel que não vista uma roupa vermelha e tenha aquela cara de bonzinho.


CN Como usar técnicas de visual merchandising para impactar ainda mais uma vitrine

nesta época do ano?


AG Para começar você deve ter um planejamento antes de montar sua fachada. É preciso pensar que terá uma vitrine exposta durante dois ou três meses. Então, não dá para oferecer algo cansativo. Ao mesmo tempo, não pode mudar muito nesse período, pois no Natal as pessoas vão em novembro para ver as ofertas e voltam apenas em dezembro para comprar. Se você modificar completamente a fachada, o cliente não lembrará mais que viu o produto em sua loja. Para ter sucesso, amplie, componha e misture os elementos que estão em sua vitrine, mas sem fugir do conceito inicial. Também não é necessário gastar muito. Use a criatividade. Hoje, estamos vivendo a fase da economia criativa, nos importamos mais com a forma e como a peça é exposta do que quanto ela custou. Às vezes, a simples mudança de iluminação pode interferir e modificar um ambiente.


CN Nichos diferentes devem adotar estratégias diferentes para montar sua vitrine ou todos podem seguir a mesma tendência?


AG As vitrines precisam ser diferentes. Por exemplo, no Natal, uma marca de utensílios para cozinha deve seguir uma linha relacionada à família e gastronomia. Já o setor de moda pode explorar o lado de viagens, mar e praia. É importante vender o produto e o conceito sazonal de acordo com a linha que sua empresa segue e não o inverso.


CN Quais outras dicas para vender mais explorando o poder das vitrines natalinas?


AG Sempre imagine a vitrine como uma forma de vender seu conceito e sua marca. Saiba que você tem entre sete e oito segundos para chamar a atenção do cliente, fazer com que ele se identifique, entenda a proposta da fachada e saiba de quem é aquela composição. Se a vitrine não estiver bem posicionada, o cliente pode ir embora ou esquecer sua loja depois de uma hora. Outra dica é saber vender seu produto. Por exemplo, se você colocar sua echarpe em um manequim sentado em uma cadeira luxuosa, pode ser que entre alguém pedindo para comprar o móvel e não o acessório. O segredo está em valorizar suas mercadorias e compor uma vitrine que ative a memória dos clientes e faça com que eles não esqueçam a sua marca.



publicado originalmente na Revista HG Casa Cristmass News Julho 2015






quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A VIDA SECRETA DAS ÁRVORES.

 


Uma das coisas que mais me chamou a atenção é que o livro está nlista de mais vendidos do The New York Times, com mais de 1 milhão de livros vendidos. É muito bom quando vemos livros que atingem esse patamar principalmente de cientistas ou filósofos. Neste caso de um cientista: Peter Wohlleben,engenheiro florestal e divulgador científico alemão, conhecido por suas obras populares sobre temas ecológicos.

 

Este é um livro que abre a mente para o conceito de ecologia, da vida (bio) e também de sustentabilidade, principalmente quando passamos a pensar na extensão da vida e na noção do tempo. Em comparação à vida humana, em média, as árvores vivem até 10 vezes mais, o que reforça a ideia que plantar árvores e/ou preservar as existentes amplia a consciência de nossa relação com as gerações futuras, já que são essas que irão conviver com árvores adultas, de mais de cem anos de vida. Eu que tenho escrito bastante sobre o Slow e longevidade, principalmente Slow design, o ritmo da natureza e das árvores em especial nos ensina muito.

 

Aliás, a educação familiar é uma das felizes descobertas que a leitura me trouxe.

 

“Uma boa educação é garantia de uma vida longa, mas às vezes a paciência das mudas se esgota.”Wohlleben pág. 37.




Se entendermos que esse aprendizado se dá através da seleção e transmissão de informações entre as árvores é possível passar a acreditar que estas informações podem ser repassadas através de suas raízes que mantém contato no subsolo com outras árvores da família, ou não, e com milhares de seres vivos que ali habitam (especialmente fungos) e que são invisíveis para nós, motivo pelo qual nem paramos para pensar em sua existência, como o próprio autor cita temos mais conhecimento sobre o espaço e a superfície lunar, do que os nossos subsolos ou fundo dos oceanos.

 

Esta de rede de conexões que se dá pelas raízes está sendo estudada pela ciência com mais profundidade.  


“ciência já fala da existência de uma 'wood wide web" que permeia as florestas. As pesquisas sobre quais e quantas informações são trocadas ainda estão no início. O que já se sabe é que os fungos seguem uma estratégia, calcada na intermediação e no equilíbrio, que às vezes põe em contato diferentes espécies de árvores, mesmo que sejam concorrentes.”pág. 16.




O texto é simples e acessível o que incentiva a leitura, principalmente a humildade do autor ao citar seus erros e de outros cientistas, não delegando o fardo das extinções apenas aos exploradores de florestas. Apesar de ter dedicado sua carreira na floresta da Alemanha, e por isso os exemplos se baseiam em dados desta floresta, tem citação ao Brasil, expandindo o conceito ecológico a uma consciência planetária, mais obvia agora com esta rede de conexões e informações.


“Também descobriram que o processo inteiro é interrompido quando as florestas costeiras são desmatadas. É como se alguém removesse os tubos de sucção de

água de uma bomba elétrica. No Brasil, as consequências já começaram a surgir: o nível de umidade da Floresta Amazônica está cada vez mais baixo. A Europa Central, a cerca de 600 quilômetros da costa, ainda faz parte da área de alcance da bomba de

sucção, e felizmente ainda existem florestas na região, apesar de sua área já ter diminuído bastante.”pág. 98.






Leitura imprescindível, para arquitetos, designers e paisagistas, e para todos aqueles que moram um algum país que tenha sua origem em árvores, como por acaso o Brasil, Terra Brasilis, terra dos Pau-Brasil, ou a árvores em brasa, queimando vermelhas.

 



Pense de novo. O poder de saber o que você não sabe.

 


O novo livro de ADAM GRANT, editora Sextante, 2021, trata sobre a capacidade de repensar e desaprender em um mundo em que as mudanças ocorrem de forma rápida, e perceber que muito do que conhecemos e entendíamos como certo já não mais da mesma forma. Para isso é necessário treinar nosso olhar e ter o cérebro aberto a repensar nossos conceitos, adotando uma postura científica frente às informações, ou seja, observar e ouvir de forma científica. Para isso, procurar fontes mais confiáveis, outras opiniões, estar preparado a ser questionado, o que Grant chama de modo cientista, propondo duvidar do que sabe, ter curiosidade a respeito do que não sabemos e atualizar nossas opiniões frente a novos dados.

 

Nada mais adequado aos tempos que estamos vivendo de pandemia de Covid, politização e radicalização dos mais diversos temas, e um caminho bom para isso é ter humildade.

 

“O conceito de humildade costuma ser mal compreendido; não significa baixa autoestima. Uma das raízes latinas de humildade significa "da terra". Humildade é, portanto, ser pé no chão: reconhecer que temos defeitos e somos falhos.”pág 53.



Enquanto a humildade nos abre a possibilidade de aprender coisas novas a arrogância nos cega e nos faz crer que não é necessário repensar nossos conceitos.

 

Um outro ponto importante na visão do autor, que coincide com muitas pesquisas que realizei e está no título de meu novo livro, é a importância da colaboração e faz parte do coletivo.

 

“Repensar não é apenas uma habilidade individual. É uma capacidade coletiva, que depende muito das práticas de uma organização.”pág. 205





O exemplo apresentado da NASA nos demonstra como mesmo corporações de excelência precisam repensar métodos, procedimentos e conceitos. Talvez até por esse motivo, de terem alcançado altos níveis de excelência, acha uma acomodação no status da inteligência, e assim, mais uma vez as corporações precisam estar preparadas para este novo mundo de mudanças constantes e rápidas, por isso não adianta apenas mudar a cultura empresarial e sim, se preparar para desenvolver uma cultura corporativa de mudanças.


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Matrix RESURRECTIONS Bem-vindo ao Deserto do Real

 

Em tempos de ressurreição e na dificuldade de acreditar no que é real, o que não é, acreditar na que é ciência, acreditar nos que a negam, em tempos de pessoas presas a máquinas digitais e que tomam pílulas, nestes tempos em nada melhor que rever Matrix.


Aproveitando o lançamento do IV filme da saga de Neo, minha dica é rever a trilogia, lógico, mas principalmente da leitura deste livro Matrix: bem-vindo ao deserto do real, de William Irwin, da editora Madras de 2003.


William é filosofo e professor de filosofia, reúne nesta obra outros colegas acadêmicos da área para fazer boas reflexões sobre o que é real e aquilo que sentimos e vivenciamos, muitas vezes mediado por tecnologia.


Traz vários outros grandes nomes da filosofia e teologia para analisar detalhes do filme, como o mito da caverna de Platão, conhecimento e realidade, o pensamento cartesiano e o materialismo, o budismo e a bíblia cristã, liberdade, teoria da libertação, Marx, Kant, Marcel Duchamp..... O que faz da revisão do filme mais interessante ainda.


Na primeira edição brasileira tem uma introdução do editor Wagner Veneziani Costa que estimula ainda mais a continuar a leitura. Destaco aqui um trecho deste capítulo que analisa os signos numéricos presentes no filme.

 


Outro capítulo interessante é do Charles Griswold e trata da felicidade conhecimento e ignorância, nada melhor nestes tempos. No trecho em destaque faz uma alusão à alegoria da caverna de Platão.


“Ninguém desperta a si próprio, embora possa se remexer com lembranças primitivas, como acontece com Neo, a ponto de ter a vaga sensação de não saber se está acordado ou dormindo (Morpheus pergunta a Neo se ele já se sentiu assim). Morfeu é o nome do deus grego dos sonhos. Por que o libertador de Matrix tem o nome dessa divindade? Parece estranho, afinal de contas, que aquele com a missão de acordar seja o especialista em sono. O nome do deus vem da palavra grega morphé, que significa forma; pois o deus podia conjurar no adormecido todos os tipos de formas.” Griswold pág 158.



“A maioria das pessoas não está pronta para ser libertada” Morfeu.





Se interessar tem aqui neste blog outra resenha ligada a Matrix que aparece no início do filme quando Neo está lendo, BAUDRILLARD, JEAN Simulacros e Simulação Coleção: ANTROPOS Editora: RELOGIO D'AGUA, 1991. 

https://www.blogger.com/blog/post/edit/3169773127506169612/4044253184452757062