O Novo Luxo e as mudanças na arquitetura e no design.
Alvaro Guillermo
A ideia de luxo está associada aquilo que nos é raro e, portanto, caro – não necessariamente à riqueza material e financeira –, mas aquilo a que de fato damos valor. Lembra do uso da palavra em conversas como “meu caro amigo”?
Na origem a palavra luxo vem do Latim LUXUS, que significa excesso, extravagância, magnificência. Provavelmente deriva de LUCTUS, “deslocado, esticar, tensionar” (daí a palavra “luxação”) trazendo o sentido de fora de lugar.
Luxo também tem relação com LUX do Latim, que é luz, brilho, por isso por muito tempo luxo esteve associado a tudo que brilhava em excesso.
Em toda a antiguidade houve reverência ao brilho e consequentemente ao Sol, temos inúmeros exemplos em diversas culturas, tendo seu auge no período conhecido como Rococó, durante o século XVIII, e como grande referência na arquitetura e decoração o estilo Luís XV, em homenagem ao Rei Luis XV da França.
Luis VX nasceu em Versailles que é um dos maiores ícones desta imagem que o luxo transmitia. Mas, também é importante lembrar aonde tudo isto levará anos mais tarde com o casamento de Luís Augusto com Maria Antonieta: a queda da Bastilha, guilhotinas e a Revolução Francesa.
Outra palavra que se origina de LUXUS é Luxúria que significa desregramento sexual e também associada a cobiça ou apreço por bens materiais, ou seja: excesso e algo fora de lugar.
Esta introdução é importante para entender o impacto que o luxo carrega na relação de extravagância representada pela arquitetura e pelos objetos da decoração com a sociedade mais favorecida, a elite econômica.
O mundo mudou muito e a velocidade tomou conta de tudo. Praticamente não temos tempo para fazer mais nada, estamos sempre correndo de um lado para o outro. O tempo passou a ser o item mais valioso de nossas vidas. Esta nova relação com o tempo muda radicalmente no nosso habitar e com os objetos de nosso entorno.
A arquitetura residencial passa a dar mais valor ao ficar em casa, conceito potencializado pela pandemia da Covid-19. Nesse sentido é importante reforçar que esta é uma tendência que precede a pandemia, e que o isolamento forçado só aumentou a percepção da necessidade disso. Ter tempo para curtir a casa e realizar inúmeras tarefas que nos dão prazer, com qualidade, passou de um luxo desejado a algo necessário para viver bem.
Essa tendência vem sendo reforçada pelo crescimento do movimento slow, principalmente do Slow Design que apresenta espaços, ambientes e objetos onde o tempo do ser humano está presente, por isso, a valorização do feito a mão em contrapartida do que é realizado velozmente pela máquina.
A casa, como construção, passa a ser pensada para o ser humano e a arquitetura vai priorizar isto, e não a riqueza dos materiais construtivos. É nela que podemos imprimir nosso conceito de vida e que conseguimos sentir a importância de viver bem, quando esse pouco tempo que temos para nós mesmos tem valor especial. A inserção de nossas identidades em nossos ambientes é importante para o reconhecimento do que somos e do que queremos ser, e não do que temos ou queremos ter, ou seja, passamos a entender o prazer de viver em ambientes com os quais nos identificamos e, quando atingimos isso, sentimos isso como luxo – devido ao valor que lhe damos.
O luxo contemporâneo não está focado no que temos e adquirimos, ou seja, na materialidade (muito menos que brilha e reluz) e, sim, será encontrado em tudo que nos remete a valorizar nosso tempo de vida e nossas identidades. Mais importante que ter um vaso de cristal é ter um vaso com o qual nos identificamos, porque conhecemos sua origem ou o artista que o executou. Uma casa luxuosa tem uma história para contar.
Um bom exemplo disto é o resultado do concurso de arquitetura de luxo PRIX VERSAILLES (da UNESCO) 2018 conquistado pelo hotel Casa Cook Kos, recém-inaugurado na Grécia, autoria de Mastrominas ARChitecture um dos escritórios mais famosos de projetos de hospitalidade de luxo, com vários prêmios internacionais por sua arquitetura inovadora e exclusiva baseada na reinterpretação da arquitetura tradicional grega, mas com um vocabulário moderno. São 100 quartos que contam com luxos pequenos e grandes, com casas cubistas de um e dois andares, agrupadas em torno de jardins e pátios. Os móveis com linhas limpas combinam-se com texturas naturais e ásperas e acessórios exóticos para criar o um verdadeiro santuário. “Não importa qual o nível de luxo que você escolhe, o estilo discreto é fornecido com muito conforto” afirma o hotel.
Outro exemplo disso é o hotel Fasano Las Piedras em Punta del Este Uruguay, projeto de arquitetura de Isay Weinfeld, instalado numa paisagem dramática e deslumbrante: árida, rochosa e de vegetação esparsa e rasteira. As unidades que compõem o complexo, foram concebidas e distribuídas como módulos isolados de concreto, pousados sobre o terreno, como as próprias pedras que existiam no local, preservando as características rústicas e artesanais.
Se a sua vida anda muito longe de cristais, prata, ouro e veludos, mas você tem real noção do tempo de sua vida aproveitando ao máximo cada momento que o universo lhe oferece, como apreciar o pôr-do-sol ou um bom vinho com os amigos ao redor do fogo, então sua vida é um luxo.
artigo publicado originalmente na Revista TriNova Piracicaba junho 2022
https://hubtrinova.com/o-novo-luxo-e-as-mudancas-na-arquitetura-e-no-design/
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