quinta-feira, 5 de abril de 2018

Coabitar – um novo conceito de morar


Coabitar – um novo conceito de morar
Por Alvaro Guillermo


Se você mora ou morou em um edifício pode ter passado pela seguinte situação: encontrar um desconhecido no elevador, o qual muitas vezes nem oferece um bom dia, descerem juntos no mesmo andar e descobrir, dessa forma, que ele é seu vizinho de porta.

Este é o mundo contemporâneo do self, em que estamos tão preocupados conosco que não conseguimos sequer reparar o que ocorre na porta ao lado.

Além das consequências da vida cotidiana e das novas tecnologias, muitos culpam os arquitetos, responsáveis pelos projetos destes edifícios, pela potencialização dessa situação. Sair do carro pegar o elevador e entrar em casa é uma comodidade que não oferece a possibilidade de encontrar outros moradores do mesmo prédio.

Muitas pessoas procuram locais exatamente com essa característica, pois apesar de viverem em condomínio, eles querem mesmo a privacidade do lar, dividindo apenas os custos das áreas comuns.

Mas, exatamente por todos esses motivos, o comportamento das pessoas começa a mudar. Muitos, principalmente os mais jovens, estão apreendendo a força do CO. COlaborar: trabalhar onde outros trabalham (Co-working); COexistir: desenvolver a vida com os diferentes; COmpartilhar: fazer uso de coisas e serviços que são de todos; COabitar: morar junto a outros. Parece que é o mesmo de morar num mesmo prédio, mas de fato não é.

Essas pessoas estão procurando espaços onde possam levar uma vida individual ou familiar, mas que possam compartilhar momentos com outros, e que todos os que ali habitam possam perceber o seu redor mudando com o tempo. Este conceito está levando os arquitetos e designers de interiores a buscar novas soluções para definir o uso dos espaços.

Se moro em um prédio onde tem um belo jardim apenas para ser admirado e que as crianças não podem usufrui-lo, por exemplo, afasta dessas a possibilidade de compartilhar a vida com o jardim, o que obriga a contratação de um cuidador de jardim.

Os espaços criados para coabitar têm como princípio oferecer a possibilidade usufruir do mesmo, e assim estes passam a ser o ponto estratégico de encontro de pessoas com afinidades.  As hortas, piscinas, lavanderias, salas de ginásticas passam a receber pessoas interessadas nesses usos.

Nos anos 70 houve uma tentativa similar em Sættedammen, que foi nomeado de cohousing. Na Dinamarca uma comunidade de 35 famílias compartilhou espaços de convivência e atividades comuns como refeições e limpeza de ambientes, mantendo as moradias privadas, mas, com o objetivo de estimular o relacionamento entre vizinhos. Talvez um primeiro passo do coliving (coabitar). Estes conceitos foram se desenvolvendo bastante nesse país que hoje ocupa o primeiro lugar em felicidade.

Sættedammen Denmark

Este conceito hoje está amplamente difundido e está crescendo rapidamente em função destes jovens de 25 a 35 anos que não encontram mais sentido em uma vida isolada e desconectada do mundo ao redor. Toda a relação do que entendem por casa, comunidade, distrito e cidade muda a partir da relação que eles estabelecem com suas conexões com os outros, gerando assim a ideia de pertencimento ao lugar e da formação de suas identidades.

Para se aprofundar mais nesta ideia podem visitar o site coliving.org, em todo o mundo este conceito tem atraído profissionais criativos e empresários que buscam inovação e tentam entender estas mudanças. No seu manifesto afirmam que estão explorando novas formas de viver e criar casas. Valorizando: comunidade junto a individualidade; colaboração sobre a concorrência; consumo compartilhado; viver experiências; responsabilidade e divisão de atividades.

Pensem quantos em um edifício têm ferramentas que pouco usam, e que neste conceito poderia existir uma oficina compartilhada bem organizada.

Vale a pena conferir alguns exemplos pelo mundo e se estiver em uma dessas cidades visite pessoalmente:


The Collective Old Oak o maior projeto de coliving do mundo fica em Londres, projetado por PLP Architecture.
 

LILAC na Inglaterra (Low Impact Living Affordable Community) baseia-se no modelo dinamarquês de coabitação: misturando as necessidades individuais com instalações compartilhadas e incentivando a interação social.



Roam Co-Living em Bali do arquiteto alemão Alemão Alexis Dornier.


 E WeLive – Love your life, localizado em Nova York

Artigo originalmente publicado na Revista MIXDECOR abril 2018 edição 41 - Confira na página 74 o artigo "Coabitar - Um novo conceito de morar " - Assinado pelo arquiteto e professor Alvaro Guillermo - www.revistamixdecor.com.br


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