Coabitar – um novo conceito de morar
Por Alvaro Guillermo
Se você mora ou morou em um edifício pode ter passado pela seguinte
situação: encontrar um desconhecido no elevador, o qual muitas vezes nem
oferece um bom dia, descerem juntos no mesmo andar e descobrir, dessa forma,
que ele é seu vizinho de porta.
Este é o mundo contemporâneo do self,
em que estamos tão preocupados conosco que não conseguimos sequer reparar o que
ocorre na porta ao lado.
Além das consequências da vida cotidiana e das novas tecnologias,
muitos culpam os arquitetos, responsáveis pelos projetos destes edifícios, pela
potencialização dessa situação. Sair do carro pegar o elevador e entrar em casa
é uma comodidade que não oferece a possibilidade de encontrar outros moradores
do mesmo prédio.
Muitas pessoas procuram locais exatamente com essa característica,
pois apesar de viverem em condomínio, eles querem mesmo a privacidade do lar,
dividindo apenas os custos das áreas comuns.
Mas, exatamente por todos esses motivos, o comportamento das pessoas
começa a mudar. Muitos, principalmente os mais jovens, estão apreendendo a
força do CO. COlaborar: trabalhar onde outros trabalham (Co-working); COexistir: desenvolver a vida com os
diferentes; COmpartilhar: fazer uso
de coisas e serviços que são de todos; COabitar:
morar junto a outros. Parece que é o mesmo de morar num mesmo prédio, mas de
fato não é.
Essas pessoas estão procurando espaços onde possam levar uma vida
individual ou familiar, mas que possam compartilhar
momentos com outros, e que todos os que ali habitam possam perceber o seu redor mudando com o tempo. Este conceito está levando os
arquitetos e designers de interiores a buscar novas soluções para definir o uso
dos espaços.
Se moro em um prédio onde tem um belo jardim apenas para ser admirado
e que as crianças não podem usufrui-lo, por exemplo, afasta dessas a
possibilidade de compartilhar a vida com o jardim, o que obriga a contratação
de um cuidador de jardim.
Os espaços criados para coabitar têm como princípio oferecer a possibilidade
usufruir do mesmo, e assim estes passam a ser o ponto estratégico de encontro
de pessoas com afinidades. As hortas,
piscinas, lavanderias, salas de ginásticas passam a receber pessoas
interessadas nesses usos.
Nos anos 70 houve uma tentativa similar em Sættedammen, que foi
nomeado de cohousing. Na Dinamarca uma
comunidade de 35 famílias compartilhou espaços de convivência e atividades
comuns como refeições e limpeza de ambientes, mantendo as moradias privadas,
mas, com o objetivo de estimular o relacionamento
entre vizinhos. Talvez um primeiro passo do coliving (coabitar). Estes conceitos foram se desenvolvendo
bastante nesse país que hoje ocupa o primeiro lugar em felicidade.
Sættedammen
Denmark
Este conceito hoje está amplamente difundido e está crescendo
rapidamente em função destes jovens de 25 a 35 anos que não encontram mais
sentido em uma vida isolada e desconectada do mundo ao redor. Toda a relação do
que entendem por casa, comunidade, distrito e cidade muda a partir da relação
que eles estabelecem com suas conexões
com os outros, gerando assim a ideia de pertencimento
ao lugar e da formação de suas identidades.
Para se aprofundar mais nesta ideia podem visitar o site coliving.org,
em todo o mundo este conceito tem atraído profissionais criativos e empresários que buscam inovação e tentam entender estas
mudanças. No seu manifesto afirmam que estão explorando novas formas de viver e
criar casas. Valorizando: comunidade
junto a individualidade; colaboração
sobre a concorrência; consumo compartilhado;
viver experiências; responsabilidade e divisão de
atividades.
Pensem quantos em um edifício têm ferramentas que pouco usam, e que
neste conceito poderia existir uma oficina compartilhada
bem organizada.
Vale a pena conferir alguns exemplos pelo mundo e se estiver em uma
dessas cidades visite pessoalmente:
The Collective Old Oak o
maior projeto de coliving do mundo fica em Londres, projetado por PLP
Architecture.
LILAC na Inglaterra (Low Impact Living
Affordable Community) baseia-se no modelo dinamarquês de coabitação: misturando
as necessidades individuais com instalações compartilhadas e incentivando a
interação social.
Roam Co-Living em Bali do arquiteto
alemão Alemão Alexis Dornier.
E WeLive
– Love your life, localizado em Nova York
Artigo originalmente publicado na Revista MIXDECOR abril 2018 edição 41 - Confira na página 74 o artigo "Coabitar - Um novo conceito de morar " - Assinado pelo arquiteto e professor Alvaro Guillermo - www.revistamixdecor.com.br
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