quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vitrinas e cidadania


É preciso resgatar a cidadania
O mercado natalino no Brasil tem uma oportunidade única para criar uma identidade própria e propor novidades ao consumidor
Por Alvaro Guillermo*
matéria publicada na Christmas News 32

O Natal no Brasil tem seguido padrões americanos, o que nos coloca em segundo plano, pois além de não apresentar nada novo, é uma cópia falsa do que ocorre nos Estados Unidos. A neve é a maior evidência disso. Já as festas de Réveillon são capazes de trazer valores da cultura popular e características próprias muito evidentes,atraindo a atenção do turismo e da mídia internacional.
Eu acredito que o mercado brasileiro de decoração natalina deveria ter uma identidade própria, mas ainda falta uma ação líder e eficaz para promover essa mudança. Isso ocorrerá na medida em que as ações atuais não apresentarem resultados interessantes.
Se houver modificações na decoração de Natal no Brasil, deverá acontecer em, no máximo, três anos, ou teremos perdido uma boa oportunidade de estender a atenção que o mundo está dedicando ao Brasil e à brasilidade.
As mudanças que eu imagino para o Natal brasileiro dizem respeito aos nossos valores e a uma nova forma de apresentá-los à sociedade. Isso é difícil de se conseguir em tão pouco tempo, mas necessário para os desejos que o País está promovendo no cenário internacional.
Para fazer as pessoas saírem de casa nesse período festivo – o que, convenhamos, é muito desgastante nas grandes cidades, em função do trânsito que só piora – é preciso apresentar novidades.
Portanto, a decoração de Natal no País deve resgatar valores tradicionais e, ao mesmo tempo, propor inovações.
O mercado deverá encontrar resultados melhores nas ações regionais. Além de ser uma tendência mundial, que se afasta da pasteurização, as convivências multiculturais e regionais são próprias da cultura brasileira. Seria possível viajar por todo o País e encontrar um Natal diferente em cada cidade e, em algumas metrópoles, como São Paulo, um Natal diferente em cada bairro.

A força das vitrines
As vitrines são a maior estratégia do comércio para atrair os consumidores. Na semana de design em Milão, todas as lojas de rua investem em suas vitrines, que são fotografadas por milhares de turistas e rodam o mundo todo, tornando-se referências mundiais.
Mesmo sendo a semana de design, comerciantes de outros segmentos também mudam suas vitrines para aproveitar a ocasião, pois sabem do valor que elas agregam às suas marcas, já que os logotipos fixados nos vidros de forma sutil estarão presentes em milhares de fotos que circulam pelo planeta.
Emoção e cidadania Explorar os cinco sentidos não é uma estratégia de marketing, é dar atenção ao ser humano. Já está na hora de todos os projetos, principalmente os natalinos, terem como foco principal o ser humano, o que significa que todos os sentidos devem ser lembrados e explorados. Por isso, os corais, com suas músicas, fazem tanto sucesso.
Projetos que resgatem a vida urbana também são bem-vindos.
O Natal é uma ótima oportunidade para estimular o cidadão a sair para as ruas, andar à noite, se sentir seguro, passear, cumprimentar o próximo e depois voltar para casa e contar aos outros esse momento
inesquecível. Não podemos ver vitrines natalinas através de grades, ou de dentro dos carros. Isso é contra o próprio espírito do Natal.
Pensamos que é uma utopia conseguir isso. Esquecemos que, há 15 anos, era possível. Esquecemos que no Réveillon, na praia, isso ocorre de forma democrática. O Natal deveria explorar a possibilidade de as pessoas se encontrarem, saírem de casa. Isso favorece o comércio, estimula o consumo e atrai o turismo. Quanto mais pessoas na rua, maior a sensação de segurança. As decorações natalinas deveriam promover a cidadania.
Ações de Natal não deveriam ser efêmeras, e sim temporais, ocorrendo uma vez por ano, mas prolongando os conceitos por toda a vida. Como pessoas, queremos isso, o que explica esses rituais
resistirem ao longo do tempo. Um fenômeno recente é o interesse do consumidor em participar de ações de generosidade e doação.
Porém, a vida atarefada não permite que ele faça suas compras e ainda tenha tempo para participar dessas iniciativas, assim, as marcas que facilitarem isso conseguirão atender a esses anseios.

Nosso bom design
Estávamos acostumados a viajar para fora com o objetivo de encontrar tendências e soluções lá fora, importar (tropicalizar) e resolver os nossos problemas. Porém, nos últimos anos, quem faz este tipo de
transferência de ideias e visita as boas feiras e congressos, começa a perceber que nos outros países alguns valores tipicamente brasileiros são apresentados como tendências e esses empresários avaliam que é caro sair do País para copiar o que já se faz aqui. Faltou a eles uma visão dos bons valores brasileiros e ter saído na frente. Como tudo, o que vem de fora parece melhor, agora acreditamos que
nossos valores são bons, pois lá fora estão falando isso.
Por outro lado, a tecnologia digital tem colocado o mundo em conexão em tempo real. Os profissionais da área são o ponto forte dessa conexão e cabe a eles o papel de fazer pesquisas, resgatar valores e apresentar novas propostas. Como técnicos, deveriam ter um repertório apurado para convencer aos demais atores a acreditar nesse discurso.
O consumidor deve encontrar na decoração algo que mexa de fato com ele, algo de que sinta orgulho. As decorações natalinas devem contar histórias onde os consumidores se sintam representados.
 Não deve parecer que é a história de outros.



*Alvaro Guillermo é arquiteto, designer e professor de pós-graduação dos cursos Ciências do Consumo e Design Estratégico, da ESPM-SP, da Universidade de Buenos Aires (UBA) e da Universidade Nacional de Mendoza, Argentina.
Acesse o blog: www.maisgrupo.com.br/alvaro

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