A relação com o mar e as águas.
A importância da ilha de Santos e das cidades vizinhas se deve a sua relação com o mar.
Muitos ainda olham para a capital como um horizonte, mas, mesmo que tenha ficado mais fácil subir a muralhara, isso não se justifica.
Ao chegar na praia, pisar na areia, colocar a cadeira de frente para o mar nos admiramos com esse maravilhoso horizonte, mas ao fechar os olhos, pensamos nas possibilidades da capital do lado oposto na serra. É incrível que estando tão perto do oceano esse passe quase desapercebido. Não irei me aprofundar para explicar coisas de origens Guaiaó como os Sambaquis, nem dos característicos canais de Saturnino de Brito que com mais de cem anos ainda são uma marca da cidade.
Muitos creditam ao porto a importância de desenvolvimento, mas este só foi possível, assim como o contato com outras culturas, devido à relação com o mar. Poderia ter ocorrido em vários pontos do litoral da América do Sul, mas, foi aqui e, por isso, deveríamos pensar mais sobre esta relação geográfica com o mar.
Mais de 40% da população mundial vive nas áreas próximas ao litoral, das quais mais de 30% estão no nível do mar, pouco acima, ou abaixo destes. E é por este motivo que existem inúmeros estudos, debates, projetos, construções e investimentos no mundo todo. Não pretendo apresentar a seguir soluções que devam ser replicadas, e sim que estimulem nossas reflexões e criatividade. Cidades como Veneza, Amsterdam, Roterdam, sofrem com o aumento do nível do mar; outras como New York, Brooklin, Boston, Berlin, Londres repensam a ocupação dos rios e do mar; e outras, como Seul, revitalizaram os rios tampados trazendo-os ao ar livre novamente. São ideias que vão de ocupações temporárias como a piscina de verão de Berlim, ou pavilhões flutuantes, a parques e praças flutuantes em cidades que perderam espaço na terra como o Pier 55 em New York. Todas estas cidades estão debatendo o tema, intensamente, muitas vezes sem consenso, mas há uma reflexão forte sobre a importância desta relação com as águas.
Por exemplo, Pier 55 de New York de Heatherwick Studio foi bem polêmico, mas o projeto é incrível, resgata a ideia de pilotes do píer e traz à luz a topografia do fundo do mar numa estrutura que proporciona um parque com arena aberta. Foi embargado pela promotoria pública, pois é financiado por capital particular, mas foi liberado pelo meio ambiente. Fora isso, em 2019, a cidade anunciou um investimento de mais de US$ 10 bilhões para o desenvolvimento de projetos dirigidos a encontrar soluções para as já previsíveis inundações da parte baixa de Manhattan, o próprio Central Park, que apresentarei em breve em outro artigo.
Outro bem polêmico foi “The Lens” projeto elaborado pelo escritório Michael Maltzan Architecture, vencedor do novo desenho do Cais da cidade. St. Petersbourg Pier tem sido uma peça central do cais desta cidade com quase 200 anos de existência. O novo projeto avança sobre o mar e traz um passeio público inusitado, propondo às pessoas a caminhar pelo mar. O mais interessante é a curva, que propõe durante o passeio um novo olhar sobre a cidade. A polêmica iniciou no concurso, depois na avaliação e divulgação do resultado.
O arquiteto e pesquisador de arquitetura Eric Baldwing escreveu recentemente um ótimo artigo que ele chamou "Arquitetura no mar: pavilhões flutuantes e a beleza da impermanência”, dos quais destaco alguns interessantes:
. Cristo criou a obra temporária ”caminhem sobre as águas” um píer com 3km de caminhada sobre um plástico amarelo flutuante;
O projeto do Clube de Natação do Canal, desenvolvido pelo Atelier Bow-Wow e o Architectuuratelier Dertien 12, o projeto propõe um novo espaço público multifuncional para relaxar, tomar sol e até mesmo nadar nos canais de Bruges;
A piscina pública no Spree River em Berlin, que tive a oportunidade de visitar, do Wilk-Salinas Architekten, teve tanto sucesso que recebeu uma cobertura temporária para manter-se funcionando no inverno.
Estes são alguns poucos exemplos que confirmam minha hipótese de pensar mais e melhor nossa relação com as águas.
Artigo publicado na Revista MixDesign Fev/ 2021