sexta-feira, 30 de maio de 2025

“Thought for Humans.” O tema do Salão do móvel 2025 propõe o ser humano no centro da narrativa.

 Thought for Humans.”


O tema do Salão do móvel 2025 propõe o ser humano no centro da narrativa.


Alvaro Guillermo




Assim como venho escrevendo nos últimos artigos, o mundo tem reforçado a urgência de pensarmos mais na natureza – da qual fazemos parte e da qual dependemos para nossa sobrevivência. Aqui, cabe ressaltar a importância da arquitetura e do design como disciplinas voltadas para o futuro, permitindo ao público imaginar cenários por meio das propostas dos projetos. Quanto mais as imagens estiverem alinhadas com a natureza e o meio ambiente, mais fácil será para as pessoas entenderem que esses projetos visam proporcionar uma melhor qualidade de vida.

Thought for Humans.” (Pensamento para os Humanos.) é o tema da edição do Salone del Mobile 2025, que explorará as conexões profundamente enraizadas entre humanidade e design, luz e matéria. A proposta apresenta uma narrativa polifônica que consolida a primazia do evento como uma plataforma cultural e criativa.

O primeiro dos renomados curadores convidados a revelar um projeto extraordinariamente poderoso – criado especialmente para o Salone e graças a ele – é Robert Wilson, famoso designer de iluminação, reconhecido por sua abordagem inovadora ao integrar luz e diferentes formas artísticas. Ele retorna ao evento para criar uma nova "visão", intitulada Mãe, dentro de um espectro maior: Light is Life.

Com esse tema, o Salone del Mobile 2025 coloca os seres humanos no centro da narrativa e reafirma o design como um elemento essencial para aprimorar a qualidade da vida cotidiana. Sua campanha de marketing apresenta imagens evocativas que ilustram uma fusão harmoniosa entre formas humanas e materiais, evidenciando a profunda conexão entre o design e a experiência humana.

O fotógrafo responsável pelas imagens da campanha é Bill Durgin:
*"O trabalho fotográfico para este projeto foi concebido com atenção minuciosa aos detalhes, buscando capturar a essência da relação entre corpo, materiais e luz. Após anos de distanciamento físico, a nova campanha celebra o retorno ao toque, trazendo o foco de volta para a conexão entre o corpo humano e o design. A escolha dos materiais utilizados – madeira, metal, tecido e bioplástico – não é aleatória, mas profundamente alinhada aos valores do Salone del Mobile.

'Pensamento para Humanos.' é exatamente o que um ótimo design deve ser. Como seres humanos, estamos cercados por design todos os dias. Tudo ao nosso redor foi projetado por alguém, para alguém. Um grande design não é apenas esteticamente agradável – ele traz alegria às nossas interações diárias, seja ao nos movimentarmos pelos espaços, prepararmos o café da manhã, trabalharmos ou compartilharmos uma refeição em família. Ao projetar móveis, aprendi como os designers estudam o corpo humano, seus movimentos, habilidades e posturas, tudo para facilitar a vida. O design está enraizado na anatomia humana e se alimenta da interação contínua com ela.”*

Acompanhemos esse evento com esperança, pois Milão tem o poder de inspirar arquitetos e designers a repensarem seu próprio trabalho. O simples fato de estimular a reflexão já é, por si só, algo extremamente relevante.

Parabéns, Salone del Mobile 2025!


















Artigo publicado originalmente na revista MIXDesign 82

sábado, 30 de novembro de 2024

Inteligência artificial e o design de interiores

Inteligência artificial e o design de interiores

Alvaro Guillermo




Nestes últimos anos passamos a compreender melhor o significado da Inteligência Artificial (AI em inglês) e como convivemos com esta no nosso dia a dia. Está presente nos aplicativos que entendem como é nosso jeito de usuário, como Waze por exemplo que define rotas a partir de nosso jeito de conduzir, entre tantos outros.

Hoje com apps de AI estamos mais admirados ainda, como ChatGPT que está revolucionando a educação e colocando contra a parede inúmeras profissões.

Diante de todo este cenário o que podemos esperar num futuro próximo para nossas casas?

Uma dica já foi apresentada há 5 anos atrás pela Sony (em 2019) na semana de design de Milão. Por isso, quando visitamos a feira de Milão temos que ir com o olhar preparado para este tipo de análise, que é encontrar propostas para debater o futuro. Muitas vezes parecem absurdas ou distantes, mas, cinco anos passam muito rápido e é provável que em mais cinco anos algumas dessas propostas estejam em algumas casas.



O projeto nomeado Affinity in Autonomy , Afinidade na autonomia, propõe que a evolução dos objetos robóticos com AI será tão grande que nós seres humanos passaremos a ter afinidades por eles e vice-versa. Quando vivi essa experiência costumava dizer que esses robôs lembram minha border collie Gaia, que fica andando atras de mim pela casa toda, às vezes tenho que tomar cuidado para não bater com a porta nela.

Uma delas se baseia na iluminação, intitulada 'despertar', enfatiza como o aumento da consciência de nossos sentidos pode despertar um novo tipo de inteligência. Isto permite direcionar a luz de forma inesperada, a partir de uma inteligência. Se lembrarmos que hoje quando ligamos a luz parte de pontos fixos e aqui se propõe que a luz vai andar e direcionar feixes com livre arbítrio conforme a AI definir com a afinidade com o usuário.



Outra intitulada 'concordância', mostra que os objetos, como os humanos, terão suas próprias personalidades distintas. irão interagir, colaborar e agir de acordo com aqueles ao seu redor. no entanto, com movimentos imprevisíveis podendo até desencadear a formação de comunidades. Na mostra utilizaram cubos e esferas, mas imagine no futuro bancos, pufes, mesinhas andando pela casa, atrás dos usuários, ou fugindo deles. Sim! Porque tem pufe que não merece o dono. Bem se a Alexa já está no comando de sua casa, ou de seus projetos, comece imaginar como serão seus projetos para permitir toda esta afinidade e autonomia.




artigo publicado na MixDesign 79 em 2024








terça-feira, 12 de novembro de 2024

O futuro das cidades e as cidades do futuro.

Diante dos últimos desastres climáticos o mundo inteiro passou a entender a urgência de debater questões simples para a sobrevivência da espécie humana.

Isto parecia algo raro para o Brasil, a não ser pelas secas e incêndios recorrentes destas secas.

Mas as chuvas e alagamentos deste ano no Rio Grande do Sul demonstraram que temos muito mais com o que nos preocupar.

Algo que vem ocorrendo há muito tempo em várias cidades brasileiras, mas, que passado o evento climático é esquecido. Todo ano a cidade de São Paulo alaga com as chuvas de verão, a maioria esquece que São Paulo é uma cidade de rios (ver mapa), por baixo dessa cidade de asfalto e concreto existem milhares de córregos, riachos, rios e nascentes que emergem com as chuvas, que correm mais rápido pela cidade impermeável.


Rios da cidade de SãoPaulo



Balneário Camboriú em Santa Catarina, Olinda em recife e Fortaleza em Ceará, por exemplo, já não tem praias. As construções próximas à orla e a elevação do nível do mar tem acabado com a área de areia. Rio de janeiro registra frequentemente a invasão do mar nas avenidas da orla.

Santos não será diferente. Uma ilha com canais depende totalmente das marés oceânicas e da elevação do nível do mar.

Independente dos motivos, se trata de uma discussão longa, o certo é que nos últimos cem anos o nível do mar subiu 20 cm, crescimento que vem ocorrendo de forma exponencial, tendo a maior evolução de 2012 a 2023, ou seja, esta última década.

O importante neste momento é que arquitetos e designers se envolvam neste debate e apresentem ideias para retomar a pauta de uma visão de futuro das nossas cidades, que cidades gostaríamos de ter? Em que cidade gostaria de viver?

Precisamos desenvolver e disseminar pesquisas transdisciplinares focadas nas mudanças climáticas e bem-estar urbano social, cultural e espacial.

Cem anos atrás a visão de futuro eram cidades de concreto escuras e totalmente dependente das máquinas. Como mostra o filme Metrópoles de Fritz Lang ou a capa do livro Future Cities: Architecture and the Imagination de Paul Dobraszczyk. Será que acertou?


Fritz Lang. Film still from Metropolis. 1927 | MoMA


Future Cities: Architecture and the Imagination de Paul Dobraszczyk.



40 anos atrás a visão de futuro era de cidades tecnológicas, a alta tecnologia moldando o urbano. É isso que estamos vivendo?

E hoje, como vemos as cidades no futuro? Como você imagina que seria o futuro ideal de nossas cidades?

Muitos estudiosos estão apostando em cidades focadas no ser humano e na natureza, ou seja, sustentáveis.

Saímos da mata e do rural, com medo da solidão na natureza (fauna e flora) para viver em locais que passamos a chamar de urbes, polis, cidade, urbano. E em muito pouco tempo percebemos que o extremo não foi uma boa solução. Temos que alterar o foco com urgência, iniciando o quanto antes esta mudança. Principalmente porque a Natureza segue a ordem analógica do tempo certo de crescimento. Para termos árvores no futuro, precisamos começar o plantio já. Para termos águas limpas no futuro, precisamos tratar e cuidar da nascente já.

Repare na linha do tempo qual você escolhe?





artigo publicado na Revista MIXDesign 78





segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Cidades para o ser humano.

A maioria das cidades foram pensadas para atender máquinas e automóveis, existe um posto de abastecimento de combustível em trechos curtos de circulação, às vezes em menos de 100 metros de distância encontramos dois ou três. Mas, não encontramos apoio ao ser humano nesse mesmo espaço, faltam bancos de descanso, áreas de sombreamento, entre outros. As cidades devem ser pensadas para o uso público do ser humano e um dos pontos mais evidentes desta desconsideração com o ser humano é a falta de banheiros públicos decentes com cuidados higiênicos que permitam, de fato, seu uso.


Os banheiros são um símbolo da cultura de hospitalidade do Japão mundialmente reconhecida. Reforçando esse conceito surgiu o projeto Tokyo Toilet, são 17 instalações projetados por arquitetos famosos e premiados como Tadao Ando e Kengo Kuma, que também serviram de cenário para o filme os dias perfeitos, indicado ao Oscar 2024.


As características formais e estéticas dos banheiros proporcionam ao local que estão instalados a referência urbana, proporcionando também à comunidade que mora na região um alto grau de pertencimento. Isto colabora para a preservação e cuidado dos ambientes, mesmo já tendo uma zeladoria especializada (representada no filme) e tecnicamente projetos que atendem às necessidades de higiene e inclusão. Isto também ajuda a promover e disseminar a importância da higiene pessoal, o que traz como consequência imediata a melhoria de qualidade de vida e saúde, e desta forma menor uso do sistema de saúde público.


Amayadori, Jingu-Dori Park, de Tadao Ando



O arquiteto Tadao Ando, vencedor do prêmio de Pritzker, desenvolveu este banheiro público circular com elemento vazado de metal vertical, criando privacidade, e mantendo a circulação do ar.

A altura e cobertura foi estruturada entre as cerejeiras no parque Jingu-Dori.

Segundo Ando "era vital criar um espaço confortável e seguro", ​​que denominou de Amayadori – (abrigo de chuva em japonês).



Banheiro, estação Ebusi, de Kashiwa Sato


O designer Kashiwa Sato, que criou o Branding para a varejista de roupas japonesas Uniqlo, criou esse banheiro quadrado a partir de frisos brancos de Alumínio. As instalações brancas e brilhantes geram aparência de limpeza. Sato quis criar um símbolo do bairro.




Banheiro, parque comunitário Haru-no-Agawa, por Shigeru Ban


Ban, vencedor do prêmio de Pritzker, desenhou 2 banheiros que ficaram famosos pelos materiais escolhidos de forma inusitada. O vidro colorido nas paredes transparentes, dá segurança higiênica e permite verificar se estão em uso.

Assim que o usuário entra e fecha a porta as fachadas coloridas dos banheiros se tornam opacas dando privacidade.  São três ambientes separados - um masculino, feminino e banheiro acessível - divididos por paredes espelhadas.



Banheiros públicos em Shibuya:

São 17 banheiros públicos em Shibuya redesenhados por 16 criadores do mundo todo, seguem em ordem alfabética: 

Fumihiko Maki, Junko Kobayashi, Kashiwa Sato, Kazoo Sato, Kengo Kuma, Marc Newson, Masamichi Katayama, Miles Pennington, Nao Tamura, NIGO®, Shigeru Ban, Sou Fujimoto, Tadao Ando, Takenosuke Sakakura, Tomohito Ushiro, Toyo Ito.


Artigo publicado na Revista MixDesign 77




quarta-feira, 6 de novembro de 2024

APRESENTAÇAO DE VALORES PARA O POSICIONAMENTO DA MARCA , por Alvaro Guillermo

O mercado exige, cada vez mais, que as empresas deixem claro seus valores, a missão e principalmente a origem de seus produtos e serviços. Na área da criatividade isso tem sido mais frequente, e arquitetos e designers não devem ficar atrás.

Studio Tom Dixon - London

Pesquisa recente da Accenture mostra que 79% dos consumidores brasileiros querem que as empresas se posicionem em relação a assuntos importantes em áreas como cultura, meio ambiente e política. E 83% preferem comprar de marcas que defendem propósitos alinhados com seus valores e são transparentes em relação a origem de seus produtos.


E o mercado de luxo, que tem um público mais atento a questões ambientais e políticas, tem tomado decisões de compra de produtos e serviços a partir da identificação com os valores da marca. Desde o tênis Destroyed Balenciaga à contratação ou não de criativos como Calatrava, o escritório MVRDV ou Jean Nouvel.


Principalmente arquitetos devem tomar a iniciativa em questões ambientais, climáticas, urbanas e sociais. Podem inclusive empreender e dar o exemplo como fez Tom Dixon em Londres, instalando seu Studio e fábrica numa área abandonada no entroncamento da estação central de trem e metrô. Desta forma sua instalação acabou contribuindo para a revitalização da área. Hoje um dos metros quadrados mais valiosas da cidade e mais visitadas tambem, em pleno crescimento.




Ou como fez a arquiteta Gelissa Cazarini em Piracaia, SP, instalando seu Studio no antigo cinema da cidade. A revitalização da fachada é um exemplo de empreendedorismo feminino e de altíssima contribuição social, impulsionando os vizinhos a seguir o mesmo caminho.




Outro ótimo exemplo é de Alagoas das irmãs arquitetas Ana Maia e Rosa Piatti, instalando o ateliê e loja no histórico mirante Santa Terezinha. Devolvendo à cidade um ponto turístico esquecido e abandonado. Ainda contribuiram com uma intervenção artistica que estimulou a cidade a repetir o mesmo exercicio em outros locais.

Essa força que os arquitetos e designers têm de conseguir enxergar o futuro, por isso a palavra é projeto, pode e deve se ser usada como ferramenta empreendedora. Deixando claro sua identidade, ideias e valores, isso irá contribuir para que sua marca se fortaleça junto a seu verdadeiro público e clientes.


originalmente publicada na Revista MixDesign 74